sexta-feira, 21 de março de 2008

Jacaranda mimosifolia

Fotografia de Anthony Ghiglia, detalhe


Não me lembro de todas as ondas que surfei.

Em vez disso, recordo-as por águas passadas que, ao contrário do senso comum, fazem mover um moinho. E aí são princípio e fim: cada onda é gota que faz girar a mó e grão moído empoeirando-se algures em mim, alimentando a vontade de voltar. Um todo de mar ido que impele para o mar que virá, felicidade gerando felicidade... Fecha-se o círculo.

Sem quaisquer traços de lucidez que não o de uma mnemónica se querer simples, chamo-as apenas e só por 'ondas'.

N'O Senhor dos Anéis, entre todas as outras fantásticas criaturas, Tolkien encontrou uma que achei particularmente poética: os Ents, pastores de árvores. Longevos seres, tendo por natureza a do próprio rebanho, de árvore "[...]tosca e densa, que ri do mundo vão e até da morte[...]". Sem pressas, no seu dialecto de longas e arredondadas sílabas conjugado com a ternura decorrente da responsabilidade, todas as árvores terão majestosos nomes.

Imagino que, nesse dialecto, a assonância e intrínseca alegria do nome 'Jacarandá' soaria melodiosamente por muito tempo. Não que inveje a imortalidade daqueles pastores ou seus prolongados trauteios, seria um desejo vão. Contento-me com a facilidade de, cumprindo a feliz contracção de carinho e festa no ‘cognome científico’, o chamar, sorrindo. Porquê? Simples, tenho-o por mnemónica.

Não me lembro de todos os pormenores do meu casamento. É um dia demasiado intenso... Mas de olhar para a minha mão sempre que a minha mulher, linda, me chamava marido, isso não esqueço.

Sorrindo, contemplava o círculo fechado...



terça-feira, 11 de março de 2008

Aos Noivos

Chegou-me hoje a casa, vindo da Austrália, o poster do filme “Glass Love” de Andrew Kidman, devidamente assinado e enviado pelo próprio.

É com alguma pena minha que não vou ficar com ele, mas é também com muito gosto que o vou oferecer ao Pinto por ocasião do seu casamento (fica aqui registada a novidade).

No outro dia falava com um amigo meu a propósito da feitura de textos ou outras criações pessoais que remetessem para sentimentos mais profundos, como o amor, por exemplo, e houve uma ideia que persistiu após a nossa conversa, que a complexidade de alguns sentimentos requerem que estes sejam tratados com a maior simplicidade possível.

Não resulta rebuscar, ou guarnecer de artifícios, o que já por si encerra um grande significado ou uma força extrema… o que é intenso sempre agrada mais quando despido ao essencial.

É essa capacidade que reconheço no Andrew Kidman, o facto de conseguir sintetizar no seu olhar o necessário e o suficiente para transmitir grandes emoções.

O poster em causa remete para os primeiros segundos do seu filme “Glass Love”, para uma das minhas sequências predilectas de entre os (muitos) filmes de surf que conheço.

Nela aparece suspensa na fragilidade do piano e voz de Chan Marshall*, a silhueta elegante duma figura feminina, Daize Shayne**, a deslizar serena e harmoniosamente por entre tons e brilhos dourados… como se se tratasse de um passeio estival num fim de tarde de Domingo.



Surf, imagem e som elevados à forma de arte, tudo parece estar em comunhão neste pequeno trecho de filme… Talvez, por esse mesmo motivo, tenha achado que um pedaço deste imaginário seria adequado para prenda de casamento.

* - Chan Marshall, a.k.a. Cat Power, regressa a Portugal para dois concertos nos dias 26 e 28 de Maio, respectivamente nos coliseus de Lisboa e Porto. Pelo sim, pelo não, já comprei o meu bilhete!

** - Cantora, modelo e já duas vezes campeã mundial de Longboard!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Tales from the Tube




Não tenho muitas palavras para o descrever. Era um supertubo verde onde me encaixei. Ou melhor, tenho imensas, mas não passam de clichés. Assim como Pessoa dizia que todas as cartas de amor são ridículas , também qualquer descrição da última etapa da união entre um surfista e o seu objecto de desejo deverá estar batida e poucas palavras encontro no meu léxico que possam adicionar alguma coisa ao que já tenham lido, visto, ou melhor, sentido na própria pele. Só queria dizer que o fiz. Ou terá sido ele que me fez a mim...surfista?