terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Eastern Promisses




Adoro esta fotografia.

Há um bom par de anos vi-a numa Surfer que nesta altura será já um tesouro escondido e empoeirado no sótão de casa dos meus pais. Por isso não a posso creditar ao autor, mas lembro-me que na legenda se lia algo como “Trent Munro, West OZ”.

Já a classificaram de montagem. Dizem que a espuma do lip, penteada pelo offshore, não joga com a superfície de azeite sobre a qual se projecta ou que a palete de azuis é do photoshop. Não percebendo muito de fotografia, talvez até possam ser argumentos válidos, mas há ali um pormenor que me leva a crer na sua veracidade: a mão tocando na água. Aquele movimento, numa onda destas, para mim e mesmo tratando-se de um agora-ex-que-julgo-na-altura-era-top-wct, é o 'belisca-me para ver se estou acordado' de quem o faz. Ali, naquele ponto de contacto, está a 'pedra de toque' que torna esta imagem real.

Dei-me ao trabalho de fotografar a revista, cortando-lhe a saia de espuma que se estendia por outra página e com isso alguma veracidade, para ilustrar um texto de um amigo meu sobre surfar à noite. Podem ler aqui a forma como ele descrevia uma forma de reflexos, uma onda de luz.

Depois, numa surfada lá longe, de calções e golfinhos, a mais velha de duas irmãs que também estavam dentro de água avisa a mais nova que no inside o vento levantava paredes onde pôr a mão. Do alto dos seus 10, talvez 11 anos, aquele meio metro tinha outra dimensão e eu voltei a ver, naquele momento, o tal feiticeiro do ocidente...

Há pouco tempo lembrei-me da imagem de novo. A minha mulher, sobre o segredo dos canaviais, dizia-me que 'agora sim, agora é para toda a vida'. Mais que os votos de casamento e alianças, mais até que o próprio amor, é essa a promessa que ele nos trará, a de “pedra de toque”...

O segredo era realmente um filho, o nosso primeiro que, correndo tudo bem, nascerá por alturas da Quaresma. E espero, como um ligeiro vento leste pela manhã profetisa um mar como o desta foto, levantando paredes para alisar com a mão, nos venha iluminar como uma onda...

Acho que poucas coisas me darão mais prazer que explicar-lhe o que isso significa.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Maria Saudade

Dizia não se lembrar de um dia assim, com a água tão fria, enquanto entre os quatro comentávamos que aquele caldinho vinha mesmo a calhar para tirar o pó ao fato curto de dois milímetros. Aproximou-se uma onda e ele empurrou-a pela prancha enquanto ela fazia o possível para agarrar aquele espelho líquido de meio metro sem que os seus movimentos sobrecarregassem o ventre onde trazia agora o segundo filho de ambos.

Já fora de água vi-a olhar para o Mar. Sabia que era a sua última surfada e vi-lhe já saudade no olhar. Saudade é o nome que lhe dei, Saudade é o nome que ela tem. Se a Saudade tivesse um rosto, para mim seria o de Maria ali, a olhar aquele Mar. Tirava-lhe um retrato, pintava um quadro se fosse pintor, e caso os meus dotes artísticos estivessem à altura da profundidade da sua expressão, então aquela seria, muito provavelmente, a minha obra prima. Intitulava-a -"Saudade de Ti, Tagahzout", haveria de estar exposta num museu europeu de arte e ali seriam vendidas réplicas em formato de postal a turistas de visita a Agadir.

Faz três anos que foi de férias para Tagahzout, três anos que conheceu Mohcine com quem aprendia a surfar, que se apaixonou, que deixou Portugal e foi viver para lá. Faz outros tantos que é mãe de Yasmine, uma criança linda.

-"É assim mesmo muito fria a água lá no inverno não é?" - pergunta-nos ela. Nunca cá surfou. Não conhece as ondas da costa alentejana e já ouviu falar muito bem de Peniche e dos seus Supertubos.

Trocou o Sul da Europa pelo Norte de África e vive o seu sonho pessoal talhando a pulso um caminho que quem a observa compreende ser o seu. E que não fosse.

A braços com um couscous sem segredos, no terraço de sua casa ordena qualquer coisa em espanhol para o cão que por ali se queda. Fala árabe com Mohcine, francês com Yasmine e espanhol com o rafeiro habituado assim a obdecer aos antigos donos que por ali o deixaram.

Há-de estar por estes dias a pensar que já não falta tudo. Todos os dias vê o Mar. E se, diz o povo sabedor, a criança nasce com cara do objecto de desejo da mãe quando não saciado, por certo ouvirá dizer - "...tão bonitinho...tem cara de point break de direita num dia de metro, glass".

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Silêncio

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............ 1 - Daniel Tadeschi

............ 2 - Dane Peterson

............ 3 - Jose Segundo

............ 4 - Kyle Lightner

............ 5 - Leroy Grannis


................. poesia de ................

Sophia de Mello Breyner Andresen