sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Dear & Yonder


Imagem de Leonardo Hernandez, Mermaid Song


Tudo o que ele lhes reservava era a espera...

Recebia-lhes os amores feitos marinheiros, pescadores ou viajantes... e deixava-as esperar. Talvez por inveja – das promessas oferecidas, da saudade provocada ou simplesmente do desejado regaço, onde mesmo os mais fiéis e dedicados lobos procuravam abrigo – nem sempre os devolvia. Era o tempo em que elas vestiam de negro, sinal de espera interrompida, e se afastavam dele.

Ele, sem idade. Elas, de todas as idades. Regendo seus humores pelas mesmas fases da lua e, aparentemente, de costas voltadas entre si...

Vêem-se cada vez mais silhuetas femininas correndo para o mar. Entre outras cores vestem de negro, em sinal de espera interrompida, para o correr nas ondas. Ele recebe-lhes os amores, agora sem intermediários: silhuetas curvilíneas sobre silhuetas curvilíneas. Em vez de semblantes carregados de outrora, geram expressões serenas. Por vezes até sorrisos...

E pouco a pouco, a conta-ondas, na memória que cresce na corrente do tempo um luto desagua em alegrias.

Talvez ainda haja uma réstia de inveja. Afinal ainda existe uma espera, a de entre sets, entre o muito que ele lhes reserva... Mas agora, talvez mesmo essa se possa desvanecer. É que enquanto outros plágios marinhos nunca tiveram o brilho original, as sereias sempre foram símbolo de todos os desejos.

Talvez as esperas mais não fossem que uma difusa mensagem marinha de um desejo dele, o mar, para elas, mulheres: deixar de as esperar.


"[...]
Sou a Estrela do mar, só a ele obedeço,
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou,
No princípio e no fim.
Só a ele sou fiel e é ele que me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim[...]"

Jorge Palma, Estrela do Mar

3 comentários:

Peterwentsurfing disse...

Mais um grande texto, parabéns meus senhores. Esse luto ainda continua a norte, não sei exactamente o que falta ou se será apenas o rigor do clima nortenho. Resta-nos o Rum.

Ana "inthehouse" disse...

Sem querer comparar a esta canção específica do Jorge Palma, da qual gosto imenso, outra que me diz muito sobre o mar e o que nos faz:

"No ha salido el sol
y Ana y Miguel
ya prenden llama
Ella sobre el
hombre y mujer
deshacen la cama

Y el mar que esta loco por Ana
prefiere no mirar
Los celos no personan
al agua, ni a las algas, ni a la sal.

Al amanecer
ya esta Miguel
sobre su barca
Dame un beso amor
y espera quieta
junto a la playa

Y el mar murmura en su lenguaje:
-!Maldito pescador!
Despidete de ella
no quiero compartir su corazon-

estribillo:

Y llorar, y llorar, y llorar por el
Y esperar, y esperar, y esperar de pie
en la orilla a que vuelva Miguel

Dicen en la aldea
que esa roca blanca es Ana
Cubierta de sal y de coral
espera en la playa

No esperes mas niña de piedra
Miguel no va a volver
El mar le tiene preso
por no querer cederle a una mujer

estribillo

Incluso hay gente que asegura
que cuando hay tempestad
las olas las provoca
Miguel luchando a muerte con el mar

estribillo

Y llorar, y llorar, y llorar por el
Y llorar, y llorar y llorar sobre el mar"

De Mecano

Ah, e uma curiosidade tola: gosto de as cantar a ambas para pôr os piolhos a dormir, como que embalados pelo som do mar...

Jorge Pinto disse...

Peter, muchas gracias pela parte que me toca. Na que toca aos meus compadres, aproveito e reforço o elogio! E na do luto, fica a certeza que um dia vai deixar de fazer sentido. Mais que não seja porque a falta do que o origina pode ser suprida com um brinde em memória, honra ou saudade d@ dit@. Já diz o ditado, de luto sentido pode vestir, quem boas memórias tem para despir...
Abraço

Ana, e também sem querer comparar, partilho aquela que acho ser a música mais bonita sobre o mar que já ouvi. É sobre uma poetisa argentina, Alfonsina Stormi, que um dia foi buscar 'novos versos' ao mar del plata e nunca voltou para os mostrar...

http://www.youtube.com/watch?v=ZzhpTA95Bnc

Para mim, a versão mais bonita não é esta mas sim um dos Sabandeños, um grupo das Canárias que cantam como se não houvesse amanhã. Estava a guardá-la para um post, mas como não sei ainda qual, aqui também fica muito bem...
Beijinho