quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Toots e Eu!



"Senhoras e Senhores, Toots Thielemans"

Talvez tenha sido assim que começou, há uns anos atrás, o concerto de Toots no Coliseu de Lisboa. Digo "talvez" porque não sei. Algum imperativo levou a que não fosse ver ao vivo um dos músicos que hoje tenho como um dos meus preferidos, e que na altura acabara de descobrir. Cheio de penas me deito e, com o passar dos anos, com mais penas me levanto.

Não sei se o que apareceu primeiro foi galinha ou o ovo, mas sei que foi também a partir dessa altura que descobri a harmónica cromática, que a comecei a tocar e que se tornou , também ela , num dos meus instrumentos de eleição. Mas falemos de Toots.

Nascido na Bélgica, onde durante o período da invasão nazi, se descobriu no Jazz, emigrou aos trinta anos para os States, acabando por encontrar em Nova Iorque um dos seus ídolos, Charlie Parker, e onde passou a integrar a sua All Stars Band, de que Miles Davis fazia então também parte.

Foi em 1962 que compôs a sua obra-prima, Bluesette, que já vem tocando ao longo dos anos com as mais variadas e influentes personalidades do mundo do Jazz e não só. O homem que diz sentir-se melhor no pequeno espaço entre uma lágrima e um sorriso,de Bluesette disse uma vez, ser o seu"very own social security number".

"Everybody Loves Toots (or they should if they don´t)" seria o nome com que eu baptizaria um álbum se um dia gravasse algum, coisa que sem falsas modéstias, me parece pouco provável. Gostava que vissem aqui um bocadinho do que vos falo, e pedia aos leitores mais apressados e menos fãs de Jazz que o vissem até ao fim, pois há nele mais do que meios tons e compassos.



Até então, já sentia uma profunda admiração pelo homem e pela música, mas (e remetendo para o universo surfístico) uma coisa é idolatrar Kelly, Rob, Tudor ou Parko...uma outra coisa...é vê-los surfar na "nossa" praia. Uma coisa é vê-los em Jeffreys, Pipe, Malibu ou Snappers...uma outra coisa...é tê-los ali, no sítio onde surfamos com frequência, olhar e ver o que fazem na parte mais mole da onda que tantas vezes percorremos, e como passam aquela secção que cai e que sempre nos esforçamos para passar. Medir-lhes os passos da areia à água...

É essa a minha sensação quando oiço "The Brasil Project".



Não que eu tenha composto as músicas claro, e também não é que as toque assim com frequência, mas na prespectiva do surfista que olhando o mar está sendo, também não o estará o músico quando ouve? Sendo?
É deste modo que a bossa é a minha praia e o Toots o local de outras ondas que aparece no pico e as rasga com graciosidade e harmonia únicas, enquanto eu vou remando devagarinho lá para fora atento à maneira como transforma em óptimo aquilo que eu já achava tão bom.

E tudo isto porque descobri que havia um segundo volume. O "The Brasil Project Vol.2". Não é propriamente recente pois foi gravado em 1993, mas desconhecia a sua existência. Dizem que não há amor como o primeiro. Bem...a ver vamos, como diz o...Stevie Wonder.

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