segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
¡(H)ola!
Boden Sea, Uttwil, 1993, fotografia de Hiroshi Sugimoto
Marrocos, 6:20 da manhã.
Foi em passos felídeos e no maior dos silêncios que a vi atravessar a sala até à janela. Não sei o que me fez abrir os olhos ou o que me terá despertado naquele preciso momento, porque não houve qualquer ruído na sua passada ligeira, e o seu pisar ao de leve quase sugeria estar a galgar aquele espaço sem sequer tocar no chão. Mas acordei, e com a mesma serenidade, vi-a depois colocar-se em contra-luz e ficar assim imóvel, a beber da paisagem marítima que só daquela divisão da casa se podia usufruir.
Com inesperado deleite, lia-lhe agora a silhueta, e percorri de olhos vagarosos o seu contorno demarcado pela primeira luz do dia. Ela estava apenas de cuecas!
Acabado de acordar, ainda só me eram acessíveis os raciocínios mais simples e eu, na dúvida de ainda estar a sonhar, pensava o quanto ficavam bem as mulheres só de cuecas. As mamas tapava-as com as mãos, assim como elas o fazem de braços cruzados, a mão direita com a mama esquerda e a mão esquerda com a mama direita. E eu, básico, pensava também que gostava muito de mamas!
Simultaneamente emocionou-me e excitou-me o momento.
Com a adição dos tais raciocínios simples, os únicos que me estavam acessíveis, tentei entender o que me era oferecido tal qual idílica composição fotográfica. Uma mulher defronte a uma janela com vista para o mar; Uma mulher de cuecas e mamas ocultas nas mãos, defronte à minha janela marroquina sobre um mar magrebino; A beleza em forma de uma mulher quase desconhecida e que, só de cuecas, se resguardava ocultando as mamas nas mãos, defronte a um mar misterioso que a minha janela magrebina me oferecia na minha primeira viajem a Marrocos; Uma espanhola com quem partilhava a casa, quase nua, só de cuecas, a irromper na sala onde eu dormia segurando um belo par de mamas com as suas próprias mãos, aparecia misteriosa em contra-luz e contra-mar-desconhecido.
Silêncio. Cuecas e mamas que desejava tocar.
Porque o tempo parou, não saberei precisar a duração de todo aquele período em que ambos estivemos a encher o olhar.
Entretanto, senti-a inspirar fundo a paisagem, virou-se e caminhou em sentido contrário para a porta da sala, tomando agora o percurso em que inevitavelmente se cruzaria por mim, agora de frente, agora desperto, agora para cruzarmos o olhar.
Se eu tivesse ficado de olhos fechados ela poderia ter passado supondo-se bem sucedida naquela sua incursão que por curiosidade ou necessidade não conseguiu evitar. Mas eu, petrificado, não os fechei, e à sua passagem só me restou fazer o sorriso mais suave de que dispunha, levantar ligeiramente a mão e lançar-lhe quase em surdina um:
- ¡Hola!
Ela, visivelmente embaraçada, retribuiu o cumprimento e, de forma automática, também o gesto, levantando uma das mãos e mostrando o que até ali tinha tão bem conseguido esconder. Saiu, mas eu fiquei com clara noção que mais do que ter exposto o seu corpo, o que a envergonhou foi ter exposto a sua intimidade, sensibilidade e paixão pelo mar!
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8 comentários:
bom dia!!
pois, sim, a verdade é que inicialmente, ao ler o teu post fiquei um bocadinho sorpeendida, primeiro porque nao esperava ser nunca o motivo de inspiraçao artistica e logo porque esse momento foi especial. mas nao fiquei sorpreendida por aquelo que dizes que é proprio dos homens, para mim é normal que vosses tenham esses instintos, o como se queram chamar. de jeito, as mulheres tambem os temos!!! ;)
digoo outra vez e para que tenhas uma ideia do que gostei de ser motivo desta escritura que fizeste: transcrivi o texto no meu diario pessoal,esse tao antigo que eu levava em marrocos, lembraste??
hoje escrevo com mais duvidas, e se calhar erros, porque ainda nao deiteime!! trabalhei a noite toda num bar e logo fui direitamente pegar umas ondinhas. estava tan fraquinho, mas com o longboard dava...
gostaria de à proxima ir todos juntos à auga e lembrar desses momentos tao especiais, especiados e exoticos que partilhamos com tanto exito nas terras do al-maghrib!!!
bom, digote adeus mas só é um até jà, pois vou lembrar portugal agora ao meiodia; vou cozinhar um bacalhau a brás!!! lolololol é serio!! outro dia digovos se consegui fazelo bem!!!
Andrea, é uma delícia ter aqui este teu comentário.
Enquanto salgares assim a tua vida, seguindo os teus instintos, surfando, viajando e cozinhando Bacalhaus-à-Bráz, serás sempre motivo de inspiração.
Beijinho!
Caro Pedro
Nao sei se deveria intormeter-me neste topico.
Mas passei por aqui para de deixar um abraço.
E pedir-te, que nao deixes de escrever esses textos deliciosos...
Mugen
A resposta ficou taºo comprida que a resolvi colocar como novo post.
Abraço
A foto é linda!
Como é que o mar consegue ser tão simples, tão básico, tão concreto e inspirar tantas emoções?
"Como é que o mar consegue ser tão simples, tão básico, tão concreto e inspirar tantas emoções?"
Talvez por ser alentejano e ter crescido no meio de paisagens amplas e poderosas, prefiro estas aos mais luxuriantes jardins. O gosto foi-se-me moldando ao minimalismo das paisagens despidas ao essencial: gosto de searas a perder de vista, de montanhas cobertas de neve, de imagens de desertos e destas paisagens marítimas que o Hiroshi Sugimoto foi retratando num estilo invariável ao longo da vida.
Muito possivelmente, dada a tua vocação e curiosidade,já deves ter googlado o nome do Sr. fotógrafo e descoberto as suas "seascapes".
A forma equilibrada como as fotografa - ar e água na mesma medida - aparentemente com grande influência oriental, de uma forma muito zen, faz-me lembrar os campos de cor do Mark Rothko, que nas suas pinturas imprimia espaços amplos de meditação de "dimensão espiritual particularmente sensível".
"Every time I view the sea, I feel a calming sense of security, as if visiting my ancestral home; I embark on a voyage of seeing."
Por vezes sinto que algumas pessoas haveriam de gostar particularmente de surfar!
Eu haveria, de certeza, de gostar de surfar. Não tenho dúvidas disso! Aliás, já me tentei aventurar nessas viagens, no entanto tenho pouca confiança na minha condição física para ir à aventura. Um dia... eu não desisto dos meus sonhos!
Conheci Hiroshi Sugimoto há pouco tempo. Quero eu dizer, o seu trabalho. Fiquei fascinada com a leitura densa que ele dá ao mar, mas de uma forma e com uma estética tão minimal, tão básica e por vezes tão abstracta. É curioso como às vezes as coisas quando são descortinadas a um determinado nível de "simplicidade" revelam lados mais profundos.
Acho muito giro que tenhas ido buscar este exemplo. É coisa de quem trata o mar por "tu".
Há dias que o trato por "tu" e outros que por "Sua Excelência". É conforme a disposição... dele, claro, que tal como nós também tem dias.
Mas percebi a tua ideia, penso que realmente já o vou conhecendo.
Deve ser simpático ver uma dessas fotografias na sua escala original, dado que ele trabalha em grandes formatos de película elas devem resultar numa dimensão generosa, quem sabe a suficiente p nos perdermos (ou encontrarmos) lá dentro!
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