fotografia de Morgan Maassen
A infância tem os cabelos soltos ao vento e areia colada por entre os dedos dos pés.
Chega-me assim à cabeça esta frase, inteira, de uma só vez. É uma ideia simpática, fico contente de se acercar assim em palavras que soam bem. No fundo é de ti que a recolho, és tu que neste momento ma inspiras.
Observo-te apaixonado… como um tolo – passe a redundância. Sigo-te as voltas que desenhas por entre dunas e que interrompes aqui e ali para te debruçares, dedicada, a alguns troncos e paus para a fogueira que eu sugeri e que tu já começas a colocar em prática. Distraído vou lutando com o fato de neoprene; tento desembaraçar-me de uma manga que me agarra sanguinária, aparentemente perco, mas meio descontrolado lá a consigo soltar. A minha imagem, absurda e frenética, em contraste violento com a leveza da tua… tão leve que segues assim descalça
(toda tu tão descalça)
de sorriso a confundir-se com a brisa da tarde: sereno, genuíno, intemporal.
Penso que a praia também se apaixona por ti! Em carícias de vento envolve-te e (des)compõe-te o cabelo devolvendo-to num desalinho de menina que te deixa, aos meus olhos, ainda mais bonita.
Finalmente consigo retirar o fato e visto qualquer coisa. Sinto, no entanto, que mesmo depois desta troca de indumentárias o surf permanece em mim. Uma espécie de película residual, quase invisível, quem sabe de propriedades anti-gravitacionais, que me deixa acompanhar-te na leveza, na ausência de peso, que me disfarça de ave marinha.
E voamos, de facto, feitos miúdos pela praia até conseguirmos acender, finalmente, o nosso lume.
Sentados na areia, junto ao fogo, assistimos a um espectáculo inesperado, surpreendentemente, à nossa frente, a madeira incendeia-se multicolor. A água do mar, que impregnou a madeira de sais, confere cor às chamas em jeito de pozinhos de perlimpimpim - labaredas amarelas e azuis ardem divertidas e é nos teus olhos que vejo, agora, soltarem-se faúlhas laranja e verdes… mesmo antes de te beijar.
* - título de uma música do Jorge Palma
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