'Lago das Viúvas’. Numa linha costeira com tantas 'igrejas', 'mesquitas' e 'sinagogas', um lugar com tamanho cognome não deve ser nomeado alto, apenas sussurrado, em sinal de respeito...
Sexta-feira passada na Caparica, mar pequeno mas com boa vontade, aproveitei o vento offshore para me pentear também. Se ele dá aquela beleza às ondas, podia ser que desse um jeitinho em mim também. Não deu, ninguém faz milagres, mas despir o fato antes de ir para o emprego é coisa que engrandece a alma e, no fundo, o que conta é a beleza interior…
Ao mesmo tempo, com ondas roçando o triplo das merrecas que apanhei, no tal lugar de má memória para tantos, um amigo meu enchia a sua de boas. Não é desrespeito, é memória de surfista, dura enquanto não aparece a próxima. E o silêncio, mesmo enquanto me contava a experiência, apenas foi quebrado por força de um teclado mais barulhento.
Ontem o mesmo amigo convidou-me para me juntar na surfada. Em boa hora tive um móvel para montar, ele é desses que sabe onde encontrá-las grandes e boas. Como é coisa que vai um pouco contra o ‘Sophia Would Go’, lema de uma organização ultra-secreta à qual pertenço e que me rege a vida no mar, tirei uma nota mental para rever os limites da mesma e fui treinar apneia entre aparafusamentos, para futuros e mais profundos caldos que me esperem.
Sei que, nesta coisa de andar nas ondas, há coisas que são uma tempestade num copo de água. Não há que ter medo pois no fundo é tudo muito simples: a partir do momento em que decidimos ir lá para dentro, é remar com força e aproveitar a boleia. Inspirar a imensidão e cingirmo-nos à nossa pequenez.
Os sets que nos apanham a meio caminho, uma bula pequena por tão grande proveito, pedem sucessivas e silenciosas vénias para entrarmos em solo sagrado...
Em sinal de respeito.
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segunda-feira, 22 de outubro de 2007
A Costa dos Murmúrios
Fotografia de Damien Poullenot
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