segunda-feira, 18 de maio de 2009

Localismo

Para quem não conhece o termo, dentro do surf será parecido a algo como bairrismo. Passo a exemplificar…

-‘Tu vens aqui ao meu bairro e tal, tasse e coiso mas de mansinho… e c’as garinas aqui da rua tu não te metes q’isto é tudo prá malta amiga e não pra paraquedistas como tu q não te conheço…! Tás a micar a cena ou não?!?!?’

Quando surfava melhor e tinha o sangue mais efervescente – leia-se: era ainda mais estúpido e a serenidade pós 30 ainda não constava do léxico pessoal – servia o pretexto ‘localista’ para apanhar as melhores ondas da praia porque a minha casa era de facto mais próxima do pico que as de alguns desgraçados que se me atravessavam no caminho em dias de menor sorte.

Por norma, o localismo não vitimiza os gajos com mais de 1,90m e que pratiquem jiu-jitsu.

Quer isto dizer que a tal animosidade só transparece quando existe uma matilha ávida de sangue – em havaiano algo como os Da Hui (ou wolf-pack) – cujos elementos, quando isolados da restante espécie, não passam por norma de cobardes amistosos.

O tema pareceu-me engraçado pois, quando deambulava pela net em pesquisa das melhores pechinchas disponíveis - agora que se aproxima o verão e a última vez que fui ao Oriente comprar surf wear já se distanciou da presente data - se me deparou o artigo em cima: uma t-shirt com dizeres raciais - na nossa gíria pelo menos - por pouco menos de 50,00€ e disponível em qualquer banca indonésia por 1/10 do valor. No meu caso, poderiam pagar-me 10x esse valor que não a usaria.

Sendo a Billabong uma marca australiana patrocinadora de eventos pelos 7 mares logo, afecta à causa da globalização… parecem-me um pouco contraditórios os dizeres escarrádos sobre o têxtil.

Acredito piamente que na conjuntura económica que vivemos, devamos abranger o máximo de potenciais clientes e daí que talvez se trate de um produto destinado aos praticantes do localismo. Mas não cai a marca no erro de se distanciar dos seguidores do eterno tema: ‘Only a surfer knows the feeling’ que sabiamente divulgou e profetizou pelo globo? E que engraçado se na etiqueta dessa t-shirt esse mesmo logo estivesse presente!!!!

E se todos os surfistas que não os Aussie’s praticassem algo do género:

- Sell your stupid tshirts in your own country?

Parece-me contra senso que uma multinacional cujo património advém directamente dos surfistas, promova a criação de barreiras e vá contra o que são a natureza do desporto que nos une e distingue:

- Actos de reunião, solidariedade e serenidade em harmonia com a natureza e o que esta nos oferece a troco de nada pois para surfar... basta estar lá.

1 comentário:

Filipe P disse...

Coisa estranha essa do localismo. Como se não ouvesse no mar ondas para todos nós, ou que o facto do meu companheiro surfista apanhar mais ondas que eu contribuisse para a minha felicidade. O pessoal preocupa-se mais com as ondas que não apanham do que com as que apanham :| Estranha essa posição da Billabong. Talvez tenham feito uma pesquisa de mercado e descoberto que todos os surfistas são localistas.