segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Um Dia na Praia


Ofereceram-me há uns dias atrás este livro de ilustração infantil, um género, diga-se, que é bastante apreciado cá em casa.

O seu autor é o Bernardo Carvalho, nome que se me tornou familiar pelo seu blog Tubus-Eternus - Aqui no Vagueares é dos nossos preferidos e já há muito que o trazemos na nossa "linkografia" - e que tenho visto a assinar diversos títulos para a Editora Planeta Tangerina (alguns deles já nas prateleiras cá de casa).

Achei que era pertinente agradecer e partilhar aqui a agradável surpresa que tive ao abrir o livro e ver a  ilustração que o próprio teve a amabilidade de me dedicar.



 Obrigado

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Acção de Limpeza de Praia

Transcrição de um novo tópico colocado no fórum Atitude-Surf pelo Presley:

"Vieram? Gostaram?

Estava imensa gente não estava? 20 mil disseram eles, ali no Pico da Mota.

Pois bem, o Bruno Bairros marcou o ritmo e mandou o seguinte email para toda a gente. Agradecia que quem puder se chegasse à frente:



Bom dia

A Surfrider Foundation vai organizar pela 1ªvez em Peniche uma acção de limpeza de praia.

A acção terá lugar na praia do Point Fabril (entre a Almagreira e o pico da Mota).

Dia da acção será Sábado dia 28 Novembro ás 14.00 horas.
Vimos por este meio convidar todos os que se interessam e preocupam com o aumento significativo de lixo nas praias da nossa costa a participar como voluntário nesta acção.

Devem-se inscrever no site da surfider foundation tendo acesso imediato a um seguro de participação. Aqui segue o link:

http://www.initiativesoceanes.org/thecleanups.php

Neste dia serão distribuidas luvas e sacos especiais reciclados para colher o máximo de macro resíduos, que depois serão enviados para um centro de reciclagem.

Esta acção será mediatizada como forma de alertar a União Europeia para o problema dos macro resíduos nas praias, que ainda não estão catalogados como poluição, por incrível que pareça.

Não fiques indiferente a este problema! Esta acção simbólica pode ser apenas o começo de algo mais concertado e com continuidade no futuro.

Vem ajudar a limpar ! como surfistas e amantes da natureza temos uma responsabilidade acrescida.


Bruno Bairros
"

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Festas da Exaltação de Nossas Sessões de Setembro



Deveria ter uns oito anos e era o primeiro dia de escola depois de umas férias imensas.

O Outono parecia já assomar-se à janela entregando-nos o sol a rir; Como era linda a minha sala de aula com aquela mancha enorme de sol a rir, a derramar-se sobre nós pequeninos, projectando as nossas sombras e a geometria rigorosa da janela no chão encharcado de ouro.

Lembro-me também das partículas de pó

(engraçado lembrar-me das partículas de pó)

que flutuavam a brilhar e se deixavam ler nos raios de luz que atravessavam as vidraças.
Nesse dia a professora entregou-nos uma folha em branco para, nesse início tímido de Outono, desenharmos o Verão.

Em cada uma das carteiras uma folha em branco que o sol – à gargalhada – tingia de amarelo!

Desenhei então as férias, porque o Verão, para um miúdo de oito anos, são as férias. Pintei a praia: um mar azul, a areia, um sol. Depois, num solar laivo de inspiração, coloquei-lhe um largo sorriso.

Sorrio também.

Enquanto remo para fora, penso, por entre braçadas tranquilas, que ainda é esse dia de escola que permanece a definir a minha ideia de Outono… Talvez agora lhe troque, apenas, os substantivos.

Já não é o início da escola que me vem assinalar o fim do Verão imenso; Agora é a deslocação para Sul das baixas pressões subpolares que o faz, por entre rufos de tambor,

(juro que por entre rufos de tambor)

trazendo-nos novas ondulações! De resto tudo igual, o mesmo regresso ao recreio, a mesma liberdade oferecida pelo espaço livre de uma folha em branco – em jeito de onda – mas igualmente tingida de reflexos amarelos a permitir-nos (re)começar tudo de novo!


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Chocolate


Não sei bem o que vi nela nem o que fez para o despertar em mim… apenas aceitei que talvez fôssemos predestinados e que no mundo não havia espaço para mais alguém.

O calor da pele morena ou secalhar a química submersa… tudo na nossa vida possui salinidade e talvez a minha tivesse falta de alguma. Dediquei-me então áquele ser… um momentâneo jogo de olhares e inerente passagem ao dos sorrisos. Dei-lhe tudo sem nada pedir. Ela acedeu em fazer não menos que o mesmo. Prolongadas juras de um amor que ambos tínhamos como impossível, quase tanto quanto de efémero.

Do meio da multidão fez-se silêncio e o meu respirar ecoou até a alcançar. Entregou-se-me e inevitavelmente tomei-a. Entrei nela e juntámos as nossas ansiedades, confessámo-nos em uníssono mas no fim não passei de um cobarde.

Vivi com ela toda aquela intensidade, viagei meio universo mas regressei só… depurado, rejuvenescido e indecente o suficiente para partilhar o nosso momento com outros. Feliz por já não nos ter presente noutro modo que não em pensamentos. Sem prova viva do que nos uniu que não eu... e talvez a minha prancha.

Novembro 2009
Maré Vaza na Praia de Super Tubos
10AM, metro e meio, glass c/ offshore moderado e água barrenta.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ponto de Luz

Sara Tavares, Ponto de Luz



'Quer ajuda?', perguntei. O olhar doce, emoldurado por rios de rugas que lhe corriam pelo rosto, antecipou o sorriso com que me recebeu a oferta. A rua não é particularmente movimentada mas, aproveitando a oportunidade para a boa acção do dia, ao vê-la ali, dobrada sobre a bengala como quem carrega o peso invisível de todos os anos que tinha, prontifiquei-me a acompanhá-la. Não, não era preciso, mas aceitou na mesma. Com passos lentos mas certos, seguimos juntos o seu caminho. Depois, segui o meu.

...


Julgo lembrar-me de quase todas as ondas que fiz. Falo daquelas boas, com tudo no sítio, princípio, meio e fim. Infelizmente, a base para esta memória de traços aparentemente elefantinos é uma má condição física. Sempre que volto ao mar depois de longas ausências a história é a mesma: os poucos degraus evolutivos que subi a custo foram descidos deslizando no corrimão. Sem braços à altura da vontade, a opção pela qualidade em detrimento da quantidade é uma escolha óbvia. Vai-me restando a complacência do tempo, lapidando-me as memórias, com que vou verticalizando drops e prolongando hang fives.

Já dos elogios que me fizeram ao surf lembro-me de todos. Todos os três... Depois de os ter recebido comecei a olhar de uma forma diferente para essa Fénix que é o meu nível de surf. Queria estar à altura dos tais elogios, poucos mas bons, e recomeçar, no mínimo, no ponto onde tinha ficado da última vez. Mas, principalmente se estava com gente conhecida nesse renascer das cinzas, a já de si pequena janela de oportunidade de uma grande onda reduzia-se ainda mais por... vergonha. Como se houvesse maior embaraço do que o de entrar na água e não nos divertirmos... Como se houvesse outra razão para ‘cair na água’ além da de nela cair... Por isso, mesmo que as minhas expectativas nunca tivessem estado muito além desse ponto, do surf pelo surf, voltei a pô-las no nível certo.

...


Lembrei-me daquela história porque um dia destes, na espera por uma última onda boa que valesse toda a surfada, dei por mim a pedi-la, sem rodeios, só para mim. Uma boa, com tudo no sítio certo, princípio, meio e fim. Uma onda que se desviasse de toda a gente, que trouxesse o meu nome escrito e passasse por mim dizendo ‘quer ajuda?’.

Talvez lendo este texto se questionem, justamente, se eu não teria vergonha. Não, acho que não, mesmo que tivesse sido preciso. Seguiríamos juntos o seu caminho. Depois seguiria o meu. E mesmo que essa onda viesse a contar a história como eu faço agora, quando o mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz...


((tipografado na FreeSurfMagazine nº15, Setembro 2009))