Deveria ter uns oito anos e era o primeiro dia de escola depois de umas férias imensas.
O Outono parecia já assomar-se à janela entregando-nos o sol a rir; Como era linda a minha sala de aula com aquela mancha enorme de sol a rir, a derramar-se sobre nós pequeninos, projectando as nossas sombras e a geometria rigorosa da janela no chão encharcado de ouro.
Lembro-me também das partículas de pó
(engraçado lembrar-me das partículas de pó)
que flutuavam a brilhar e se deixavam ler nos raios de luz que atravessavam as vidraças.
Nesse dia a professora entregou-nos uma folha em branco para, nesse início tímido de Outono, desenharmos o Verão.
Em cada uma das carteiras uma folha em branco que o sol – à gargalhada – tingia de amarelo!
Desenhei então as férias, porque o Verão, para um miúdo de oito anos, são as férias. Pintei a praia: um mar azul, a areia, um sol. Depois, num solar laivo de inspiração, coloquei-lhe um largo sorriso.
Sorrio também.
Enquanto remo para fora, penso, por entre braçadas tranquilas, que ainda é esse dia de escola que permanece a definir a minha ideia de Outono… Talvez agora lhe troque, apenas, os substantivos.
Já não é o início da escola que me vem assinalar o fim do Verão imenso; Agora é a deslocação para Sul das baixas pressões subpolares que o faz, por entre rufos de tambor,
(juro que por entre rufos de tambor)
trazendo-nos novas ondulações! De resto tudo igual, o mesmo regresso ao recreio, a mesma liberdade oferecida pelo espaço livre de uma folha em branco – em jeito de onda – mas igualmente tingida de reflexos amarelos a permitir-nos (re)começar tudo de novo!
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