quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Dolce Fare Niente

Rob Machado, fotografia de Patrick Trefz

“… Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.”

"Tao Te Ching", Lao Tzi - 道德經 (Cap. 48)


D
iz que por ocasião da última visita de Bill Gates a Portugal, alguém lhe terá perguntado qual o segredo para o êxito profissional, a que ele, segundo dita, terá muito prontamente respondido que bastaria colocar todo o empenho naquilo que mais se gosta de fazer.

Quem me contou este episódio foi um amigo, que estava, na altura, muito intrigado e reticente com o facto de efectivamente poder vir a ser multimilionário, empenhando-se, simplesmente, em se esparramar no sofá.

Aplicando a mesma leveza de interpretação às sábias palavras do Velho Mestre (agora não do Bill, mas sim do Lao Tzi), talvez ainda viéssemos a dar alento e reforçar as esperanças ao meu amigo… Se bem que o domínio de que agora se fala seja de índole espiritual.

No entanto, e na verdade dos factos, a não-acção (ou wu-wei para os nossos amigos chineses) a que frequentemente a filosofia Taoista se refere, não significa propriamente nada-fazer… Isto para desgraça de quem é realmente bom a esparramar-se no sofá... Do que se trata é de nos deixarmos guiar pelo curso natural e lógico dos eventos do universo, de nos deixarmos fluir em harmonia e simplicidade com o que nos deparamos na vida, mesmo que para isso, por vezes, coloquemos de lado alguns preceitos morais ou rigidez de princípios.

A imagem que monto a partir de toda esta densidade de ideias, talvez por falarem de espiritualidade, fluidez e mestres, é de um Tom Curren ou Rob Machado, a surfarem despreocupadamente de Twin-Fin... Aquele seu minimalismo habitual de gestos, cometidos, apenas, na intenção de permanecer trimming the wave, de se deixarem levar com gozo e fluente elegância.

É assim que também eu aprecio surfar, se bem que é igualmente verdade que a minha maçarrice não me ofereça muitas alternativas… Mesmo que quisesse, nunca conseguiria ornamentar o meu surf com big-moves... Por conseguinte, vou tentando fazer um surf na linha correcta… Naquela em que a onda me pareça querer levar!

Acho que é assim na vida como no surf… Ou será que é assim no surf como na vida?

2 comentários:

Luis Paulo Magalhães disse...

Confere. A Pauline que veio de Taiwan, e que que tem o Mandarim como língua materna traduziu-me o "wu-wei" como "not being atctive towards something". Caro colegas...segundo o wannasurf...Taiwan não é só a homeland de bugigangas baratas. Já temos Vagueares´s House em Jia Le Shui.:)

CVD disse...

E não faz o surf parte da vida? Dissolvem-se os dois em harmonia com a mesma simplicidade com que Rob Machado toca a crista da onda como uma criança a tocar pela primeira vez em algodão doce...

E...é verdade...que foto linda!