sexta-feira, 31 de outubro de 2008
An End Has a Start
Aparece inesperada uma onda de pelo menos dois metros à minha frente. Eu quase a chegar lá fora! Penso que por esta não irei conseguir passar, que ela irá colapsar com toda a força mesmo diante de mim!
Não sei por que mecanismos mentais, mas associo de imediato o momento presente à nossa conversa de ontem… e rio… deixo-me rir perante a inevitabilidade da coisa.
“- Calha a todos, meu caro!” – Disseste de forma irónica e na toada bem-disposta que tentava dissimular toda a carga emotiva que ia no teu coração… nos nossos corações!
Remo tentando ganhar velocidade, mesmo sabendo que vou apanhar com ela na cabeça.
Poderia ser o corolário deste nosso último encontro. Não havia muito mais a dizer, as palavras que poderiam ser trocadas já delas tínhamos pleno conhecimento. Mas inventámos a razão para haverem uns últimos instantes… perto um do outro.
Tento ser tecnicamente perfeito no duck-dive, irrepreensível nos gestos e no timing que me possibilite passar incólume por esta imensa massa de água que se ergue e dobra à minha frente.
Sei que foram relativamente poucos, esses momentos em que estivemos juntos… mas todos tão preciosos!
Chove lá fora e nós despedimos-nos no carro com um abraço, o amor traduzido num aperto forte, talvez o último a que nos entregamos… Rolam-me inevitáveis as lágrimas na cara.
“- É chuva.” – Digo… e despeço-me!
Sou tomado pela força da onda… de nada me serviu a técnica, de nada me serviu o rigor dos gestos, é-me arrancada a prancha das mãos e sou arrastado ao acaso naquele turbilhão branco…
“- Calha a todos, meu caro! Calha a todos!”
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5 comentários:
belo post...
acho que todos nos ja levamos com uma "onda" dessas nas nossas vidas.
Abraço
Que metáfora tão fantástica!
Se queres saber ainda acho mais fantástica a consciência da situação.
Viver, é um crescendo de experiências pelas quais vamos passando, é uma vontade de crescer enquanto ser,enquanto mulher, homem, o que formos.
São estas passagens que nos fazem sorrir , cada vez que paramos na nossa vida para olhar para trás, e seguir em frente com confiança no que poderemos voltar a encontrar.
‘Sabedoria’, é o que se adquire com todos estes momentos lindos pelos quais passamos sempre que nos apaixonamos.
'Calha a todos, meu caro'. Tentarmos ser felizes, com todos os desejos, passos, vontades que conseguimos concretizar e nos deixam um travo doce na boca, ao longo da vida.
Bom post , Pedro. Fez-me reflectir nas coisas boas da vida pelas quais já passei.
Depois de levar com uma das grandes em cima pouco mais há a fazer do que vir à superfície e apanhar uma boa golfada de ar, puxar a prancha e voltar a remar.
Mas esses momentos, apesar de (in)tensos, desafiantes e por vezes dolorosos, também fazem parte da surfada. Por vezes, são até fundamentais para repensarmos a abordagem que fazemos às ondas que nos surgem no horizonte, para voltarmos a estar em sintonia com o mar "e seguir em frente com confiança".
"Ter medo de um perigo é uma reacção natural e saudável, dominar o medo é que é ter coragem" - Pedro Martins de Lima
Ah, e obrigado pelos comentários simpáticos!
dor e sacrifício fazem parte do surf sem que por vezes o entendamos como tal, sendo que o prazer retirado, por vezes apenas instantâneo, é a anestesia.
abraço
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