segunda-feira, 18 de maio de 2009

Baú das Recordações - PAIXÃO CÍCLICA



Lembrei-me aqui há dias dos meus tempos de adolescente... dos dias de bezerranço puro e duro, das borgas, da ausência do 'ter que'...

Depois comecei a lembrar-me das paixões que tive... das giraças e boazudas q se sucederam noite após noite e das tardes de verão, cujo desfalecer acabava invariavelmente numa qualquer duna moldada pelos lestes quentes que alternavam semanalmente com uma nortada que nos fazia aconchegar...

'A paixão cega-nos mas mantém-nos vivos'... inventei eu agora como resposta às lições de racionalidade com que me vêm acenando por toda a minha caminhada e que felizmente fui oportunamente refutando.

Entretanto apaixonei-me pelo mar. Mais que antes. Já gostava dele mas a minha maturidade não me permitia percebê-lo integralmente. Estabeleci prioridades e pu-lo à frente delas. Não me lembro de grandes pormenores dos momentos de amor ardente passados junto à beira mar mas lembro-me detalhadamente de algumas das melhores surfadas que dei... só e com amigos, com sol escaldante ou debaixo de intensas tempestades e céus violetas ocasionalmente rasgados por relâmpagos.

E apareceram os filhos. Esses que nos reorganizam as prioridades. Que nos fazem passar ao lado de inúmeras surfadas sem que nos arrependamos disso.

Esta semana, entre uma onda e outra parei no pico, sentei-me na prancha e apreciei as arribas... silenciosas e imponentes, quase iguais desde que pela primeira vez parei para as vislumbrar.

Tudo mudou em mim. Mudei de desporto e tornei-me adulto. Tenho família e milhentas obrigações mas continuo a sentir o mesmo quando remo mar adentro e sinto o frio da água a tentar passar pelo neoprene e o sal a escorrer do cabelo para me adocicar a boca.

Dias há no entanto que tudo me parece sem sentido. E então parto. Rumo a algum lado em busca de novas paixões e sensações. Mas com a prancha debaixo do braço. Parto para sentir saudades e voltar a dar sentido à bela surfada que é esta vida.

Quando partir definitivamente, é bastante provável que os meus filhos olhem para as mesmas arribas, as que me acompanharam quando me iniciei nestas lides do mar e me aplaudiram nos momentos de maior inspiração, me incentivaram quando tudo correu mal... ou me guiaram quando o mar me quis tomar o pulso. Espero que sintam o quão bela é a vida assim como a sinto cada vez que surfo. Que se desviem das merdas e desperdícios de tempo e energia e que rumem ao pico, apanhem uma onda do set e façam as arribas vibrar de alegria por mais alguém sentir para que cá andamos...:

- para nos apaixonarmos e sermos felizes como só os Surfistas o sabem ser.

2 comentários:

k. disse...

''...
Quando partir definitivamente, é bastante provável que os meus filhos olhem para as mesmas arribas, as que me acompanharam quando me iniciei nestas lides do mar e me aplaudiram nos momentos de maior inspiração, me incentivaram quando tudo correu mal... ou me guiaram quando o mar me quis tomar o pulso. Espero que sintam o quão bela é a vida assim como a sinto cada vez que surfo. Que se desviem das merdas e desperdícios de tempo e energia e que rumem ao pico, apanhem uma onda do set e façam as arribas vibrar de alegria por mais alguém sentir para que cá andamos...:

- para nos apaixonarmos e sermos felizes como só os Surfistas o sabem ser. ''

Lindo !
Para variar adorei o que escreveste.
Já tinha o prazer de conhecer algumas coisas escritas por ti.
Tenho andado afastada, daqui e de lá do outro lado, onde nos conhecemos.
Não por algum motivo em especial, apenas porque estou focada num objectivo muito simples, pagar as minhas contas...
E, tenho que dizer que já tinha saudades de LER, algo que me inspirasse da forma como o acabaste de fazer !
Não tenho surfado, se é que se pode chamar surf, aquilo que faço dentro de água, mas hei-de lá chegar. E por isso mesmo tenho me questionado sobre o que sinto de vez em quando, quando se apodera de mim um ''desejo enorme'' que não consigo saciar, devido a não poder entrar na água. Ao longo dos meses, tenho me vindo a aperceber, se é que ainda me fazia falta, da minha necessidade de entrar na
água semanalmente, já dei por mim, várias vezes '' a ressacar'' nitidamente por não poder fazer uma das coisas que mais me dá prazer !
Assumo que este foi um ''amor'' que veio para ficar, sabes, daqueles de uma vida inteira !

Obrigada! Fizeste a diferença no meu dia.

Ainda bem que finalemente te decidiste a escrever !

kisses para a familia !

Rudas disse...

E só por fazer a diferença no teu dia já valeu bem a pena... ;-)
Esquece mazé as contas ou manda-as ao Sócrates e faz-te à água...!!!!
Beijinhos e obrigada pelas palavras de apreço e incentivo,
Rudas