quinta-feira, 14 de maio de 2009

Le Premier Cri


Há algum tempo que escrevo sobre o mar.

Comecei sem maior motivo que organizar pensamentos e, em jeito de diário de viagens, vim andando.

Soube desde logo que, com esta decisão, alguns caminhos me estariam vedados. Aqueles de quem rezam as lendas raramente as escrevem, por isso, risquei ondas como Mavericks e Teahupoo do mapa e pus o meu tecto do mundo nas direitas quilométricas de Jeffrey’s Bay.

O surf deu-me novas perspectivas e algumas redefinições no formato mais extraordinário de todos, o simples. Saía da água com o corpo cansado e a mente fervilhante de ideias, inspirações ou verdades reveladas naquela improvável fronteira do divertimento. Depois, como agora, tentava descrever sensações com textos onde o único traço inequívoco será que os cingem os limites dos oceanos.

Por gosto, que passou a ser norma, rotulava-os segundo livros, filmes ou títulos de outras artes, com inerente reconhecimento ao original e explorando-lhes novos sentidos, por vezes diametralmente opostos. Não é defeito, é feitio. Tendo sido pai muito recentemente, ao contemplar o meu filho com uma saúde que espero o acompanhe toda a vida, empreguei uma expressão que tantas vezes ouvi usada com desânimo mas que, após 9 meses de esmagamento face à grandiosidade do que se passava à minha frente, me pareceu fazer todo o sentido para celebrar aquele momento: é a Vida…

Há algum tempo que escrevo sobre o mar. Pouco, para o quanto gosto de o fazer ou para o que faço quando o faço. Mas sei que se vos disser o que me leva a fazê-lo não vão precisar de nenhuma explicação.

Ando a tentar ver a vida por um canudo…


Ilustração de Vera Costa



((texto publicado na FreeSurfMagazine))

1 comentário:

yes1 disse...
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