sexta-feira, 15 de maio de 2009

Política



Sentado num dos meus pointbreaks predilectos, respirava ainda algo ofegante o doce odor da maresia após uma debandada estratégica precedida das duas únicas ondas do dia, dropadas no limite e em fuga de uma espuma tipicamente havaiana.

‘Isto aqui de fora nem parece assim tão grande’ – pensei.

Mas que raio de coisa era aquela que se me deparou no horizonte, atropelou e fez estalar todas as vértebras do pescoço…?!?!’ – inquiri.

Olho para as escadas que repousavam perto do meu poiso e onde, momentos antes da minha retirada, tinha vislumbrado um surfista cheio de pica e que corria euforicamente julgo que para comigo dividir alguma ansiedade - 50/50 ou algo parecido pelo menos – e o mesmíssimo atleta possuído pela mesmíssima força de vontade, seguia agora em direcção oposta para a segurança da sua viatura.

Previam vocês chegar a algo que vos ligasse ao título, certo? ‘Somos demasiados’ – é este o pensamento a ter nesta prosa acerca de política.

Deitei-me de boxers sobre a capa da prancha - não fosse chegar a casa e deparar-me com um ‘Já…?!?!?!’ – e olhei para as linhas que varriam o horizonte. A solidão do local – embora sábado não tivesse sido o palco de mais uma das épicas (na minha fácil escala pessoal) surfadas que dali retirei – deu-me para o pensamento. Aproveitei o sol e pus alguns neurónios a surfar.

Surfo aqui pela quantidade. A das ondas que são sempre muitas e rebentam sempre no mesmo sítio. E pelos surfistas que por norma são sempre poucos pois nem toda a gente se sente à vontade no local… a questão política passa também por isso: quantidade.

Os gajos são demasiados e por o serem, consomem desmesuradamente – via impostos e legislação suis generis – como a fábula de ontem que é a lei dos poços: ‘consomes água que não a da rede? Então vais passar a pagá-la!’. Nós cada vez produzimos menos porque não nos deixam. As micro, pequenas e médias empresas desaparecem a cada dia que passa dada esta ‘ajuda’ estatal... que mais não é que mero instinto de sobrevivência de um parasita de dimensões agora disformes chamado Estado. Daí que quando na paz do meu solário – que não me importarei de partilhar com alguém mesmo que comigo não queira partilhar a referida dose de adrenalina de há 4 parágrafos atrás – penso numa solução que não passe apenas pelo meu voto e me advém a ideia de um reset, ou seja, o assumir que o sistema, nos moldes em que foi criado já não existe e foi subvertido aos interesses dos que dele se foram servindo durante décadas.

Talvez por ter ouvido um líder de bancada ainda este mês vomitar algo como ‘a solução para o défice passa obviamente por um novo aumento de impostos’ e não algo como ‘a razão para o mal estar da economia nacional passa por nós, políticos, sermos demasiados e vocês não terem forma de nos sustentar, sendo que para se fazer política basta uma variedade de cores e não uma mala repleta de lápis de cera’, tenha num ápice submergido na poça de água mais próxima, sem o meu pesado 4/3mm pós época, na vã tentativa de arrefecer a massa encefálica… Demasiados. ‘Vós sois demasiados’ é o que vou escrever 3x em boletins de voto este ano. E remato com um ‘seus bois’, que senão chegam ao facto de ter sido eu a escrever isso… assim e mais à popularuxo já não chegam lá e pensam que sou de alguma aldeia. Não que não seja pois detesto a urbe... mas acreditem a mim, saloio em qualquer par de cromossomas que me constitui, que vai chegar a algo parecido com isto:

DGCI – Nova Taxa de Respiração: 10,00€/dia

Nota:

Nem se dê ao trabalho de indagar a inconstitucionalidade da taxa ou de arranjar desculpas pois o facto de respirar é uma opção sua.

4 comentários:

Pedro Ferro disse...

Deixa cá oficializar em comentário o

'Bem-vindo a bordo!'É muito o gosto de te ter aqui a vaguear entre nós. E, pressinto, também os teus textos agradecem terem sido desempoeirados e retirados do ambiente bafiento de um qualquer directório do teu disco rígido.

Fico na ideia de que ao contrário dos 'políticos', aqui não somos de todo demasiados.

Ao contrário das bancadas parlamentares onde se alinha "uma mala repleta de lápis de cera" numa monotonia de cores gritante e combinação berrante de rosa e laranja, parece-me a mim que por cá ainda não foi desta que repetimos os tons.

Por outro lado e igualmente ao contrário dessa classe política viciosa de que falas, não vimos daqui subtrair nada, a ideia passa antes por partilhar e esperar que esta nossa nova "variedade de cores" acolha mais interessados na nossa leitura.

Ahh, e para quem já se queixava na demora da saída de novos textos, penso que esta entrada a plenos pulmões do Rudas deixa-vos com leitura para todo o Verão...

Mugen2i disse...

Que grande surpresa Rudas.

Mais um para alimentar o povo com o Vagueares e as suas deliciosas Quadras.
sim, agora deixou de ser um trio a passou a ser a Quadra.

Parabens Rudas.
Abraço aos quatro.

Rudas disse...

Obrigado aos 2 e já agora ao Pinto e LP... ;-)

Julgo que a escrita nos aproxima e apesar do tom dos caracteres não ser o mesmo - e felizmente que assim o é - a exposição de outros pensares abre-nos a mente à panóplia de cores que constitui o mundo.

Não sendo o Vagueares um meio real, que sirva pelo menos como refúgio de exposições de sentimentos e se mantenha como um são ântrio de amizade!!!

Para tal contem com o meu humilde contributo pois a causa merece-o...

yes1 disse...
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