O dia começou nada menos q extraordinário: acordei com alguém a pedir-me um biberon, algo q acedi e puxei-a para meus braços apreciando o q de facto interessa nestes estranhos enrêdos q nos prefazem os dias. Enquanto adormecia, apreciei a ausência de dores q me vinham fustigando os últimos dias, fossem nas solas dos pés dados os ouriços - da última entrada nos Côxos, ou musculares dadas as incontáveis surfadas das vésperas. Fechei os olhos e imaginei ondas de sonho e águas cálidas e, algo tão ou mais improvável de viver, manobras feitas no limiar do rail e a velocidades anti regulamentares. Momentos depois deixava a caçula na ama, afastando-me de sorriso largo enquanto esta acenava eufórica e parti rumo ao meu destino.
Tomei o café enquanto fingia instruír-me com o CM - como se assim conseguisse enganar alguém, fosse antes o Expresso e talvez... - e esfregava as ramélas e cabelo ainda salgado das sessões de véspera. Cruzei diversos picos e alguns surfistas preenchiam o lineup, versão muito curta para o q almejava. Segui então para o poiso dos últimos dias e rumei areal fora para uma entrada sumária num mar pequeno mas glass, fraco mas cavado... algo diferente se passava pois em pouco menos de 10 ondas não espetei nenhuma calináda... um chapelinho, linhas fluídas, alguns bons roudhouses... chamariz óbvio para as aves de rapina q cedo me circundaram.
No meu 'Endless Summer', não havia lugar a outros protagonistas pelo q, decidi abandoná-los traçando novo azimute e remei seguro para junto do meu ouro. O arco-íris esse, talvez por ser demasiado distante para alguns mas certamente por falta de ambição para mais q outros tantos, percorri-o em solitário trilho até q as costas e braços me pediram clemência. Sentei-me e o vidro tinha consumado todo o local prefazendo toda a superfície de aquífero. Centos de pequenas taínhas circundaram-me e trocámos bons dias... por certo nada ou ninguém nos estragaria a recente relação até q as linhas entraram.
Ignorei num ápice todos os meus novos amigos e aquilo q ao fundo me parecia pequeno e improvável, já perto transformou-se em luz. O meu ouro estava ali. Eram 11h da manhã do dia 1 de Outubro de 2009 qd comecei o festim. A água estava quente e os drops deixavam antever os litros de água q de seguida saltariam dos meus rails. Perdi-me em pequenas salas de silêncio para sair aos berros de alegria - sabendo contudo q ninguém naquele inóspido local me ouviria. Uma e uma vez mais aumentei e consolidei o meu reportório de manobras e ora depressa, ora devagar, as quilhas trilhavam o óleo salgado q benzia o palco. Temi q as cortinas corressem e encerrassem o epílogo - dado q nesta conjuntura económica os orçamentos são apertados - mas ao invés disso e já com o avançado subir da maré as condições foram-se aprimorando e o q começou por ser um reinado de direitas, alcançou o estatuto máximo da triangularidade. O meu pequeno e privado pipeline perdurou até às 14h30m altura em q abandonei os céus. As asas foram-me faltando e despedi-me delas deixando o portão escancarádo para q outro acedesse aquele pedaço de paraíso.
O caminho de regresso teria sido calvário se não o tivesse feito de mente ausente. Apenas o corpo resmungava com as mais de 4h30 de exigência sobre humana mas é algo q já se vem habituando desde tenra idade e o regresso a casa é imperativo pois é lá q está a outra ponta da ponte das 7 cores. Após a remada, nova caminhada e ainda apreciei dois duches em balneário de construção divina.
Voltei para casa exausto e mais leve q um pássaro mas sem grandes tiques de vedeta apesar de o filme ter ficado acima das minhas muito e por demasiadas vezes altas expectativas. Aos telefonemas q fiz e recebi e q invariavelmente me asseguraram terem estado diante de ondas épicas, repliquei q céu só há um e q no dia 1 deste mês tinha tido a indecência de não o partilhar com ninguém. Fui buscar o meu outro ouro e mostrar-lhes o q o pai tinha estado a filmar grande parte do dia, adoraram mesmo sabendo eu q nada daquilo era sequer comparável ao q deixei noutro lado...
Publicado in 'Atitude-Surf'
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