terça-feira, 21 de julho de 2009

A Insustentável Leveza do Surf


Fotografia de Thomas Campbell

Decido não tomar banho! Ainda tenho surf na pele e prefiro assim. Bem sei que é um receio irracional, este meu, de se me ir o prazer que ainda carrego no sabão e na água do duche, mas levar a surfada do dia, à noite para a cama, dá-me melhor dormir.

Quem vai ao mar sabe do prazer de que falo, mesmo aqueles que tomam banho - certamente de melhores hábitos que os meus - e que não se rendem às incertezas, que lhes surgem, contrárias à razão. Nada melhor me ocorre para enfrentar qualquer insónia que a leveza de um corpo cansado e o prazer que nos invade e perdura das nossas danças de mar. Fechamos os olhos e continuamos lá, naquela musicalidade tão próxima do sonho que a realidade nos entrega quando melodicamente seguimos a deslizar.

Quando me deito é este sabor a surf que ainda quero ter nos lábios, que mudos, ainda assim soletram de cor as vagas que de dia nos embalaram… e de repente, é vê-las ganhar mais um metro em altura e outros duzentos em comprimento… sem sabermos que já estamos a sonhar.

5 comentários:

Peterwentsurfing disse...

Ufa... estava a ver que era o único!
Então quando se sente a "crosta" hummm é a prova provada!

Surf4ever disse...

Para alguns pode até parecer absurdo, mas para quem compreende tuas palavras, nada de mal tem ir dormir salgado.
"O absurdo da existência humana cria a intolerável/insustentável leveza do ser"... e, por que não, do surf?
Estou a terminar de ler o livro de Milan Kundera, livro que ficou de herança de meu avô, e que só agora tomei vergonha de lê-lo. Coincidência das boas o título de tua postagem e esse belo texto.
Abraços à "malta" (ou "raça", como dizemos por aqui) do Vagueares, que não conheço pessoalmente, mas da qual admiro muito as palavras.
Gustavo

Anónimo disse...

"(...)e não interessa se ele sabe ou não amar, porque ele sabe a mar."

;-)

Pedro Ferro disse...

Peter,

isso com crosta será quanto? Um mês para se alcançar? Eheh, só faltou concluir, "gajo que é gajo não compra sal, trá-lo na pele directamente do mar!"

Abraço

Pedro Ferro disse...

Viva Gustavo

Tanto livro que eu também tenho na cabaceira à espera que eu "tome vergonha de os ler". Mas não é o caso desse, que foi leitura prematura e me preencheu o imaginário na altura da adolescência.

Foi a namorada que mo deu a ler... Ainda n percebi se por se rever na inocência de Teresa se na ousadia e sensualidade de Sabina!

Há livros que, como o sal, se acabam por levar na pele: frases e conteúdos que ficam para sempre tatuados. Esse é para mim um deles!

Gustavo, vai aparecendo... a raça do Vagueares também é presença assídua do teu espaço.

Abraço