terça-feira, 30 de outubro de 2007

Stranger Than Fiction


Não acontece muitas vezes...

Naqueles dias em que somos muitos, mas mesmo assim apanho, senão 'a', uma das ondas do dia, não deixo de me sentir um Bruce Willis, com a minha prancha no papel de Maria de Medeiros, curiosa sobre o nosso meio de transporte...

E tudo parece ficar para trás...

___Fotografia de Thor Jonsson

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Fabienne: Whose motorcycle is this?
Butch: It's a chopper, baby.
Fabienne: Whose chopper is this?
Butch: It's Zed's.
Fabienne: Who's Zed?
Butch: Zed's dead, baby. Zed's dead.
Quentin Tarantino, Pulp Fiction

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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Wave of the day

Ainda não foi hoje que larguei os 'pastéis' novamente na gaveta...

Onda do dia, pintura a pastel, Pedro.

Reencontro

Hoje reencontrei no fundo de uma gaveta a minha caixa de 'pastéis'.

Onda, pintura a pastel, Pedro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Dolce Fare Niente

Rob Machado, fotografia de Patrick Trefz

“… Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.”

"Tao Te Ching", Lao Tzi - 道德經 (Cap. 48)


D
iz que por ocasião da última visita de Bill Gates a Portugal, alguém lhe terá perguntado qual o segredo para o êxito profissional, a que ele, segundo dita, terá muito prontamente respondido que bastaria colocar todo o empenho naquilo que mais se gosta de fazer.

Quem me contou este episódio foi um amigo, que estava, na altura, muito intrigado e reticente com o facto de efectivamente poder vir a ser multimilionário, empenhando-se, simplesmente, em se esparramar no sofá.

Aplicando a mesma leveza de interpretação às sábias palavras do Velho Mestre (agora não do Bill, mas sim do Lao Tzi), talvez ainda viéssemos a dar alento e reforçar as esperanças ao meu amigo… Se bem que o domínio de que agora se fala seja de índole espiritual.

No entanto, e na verdade dos factos, a não-acção (ou wu-wei para os nossos amigos chineses) a que frequentemente a filosofia Taoista se refere, não significa propriamente nada-fazer… Isto para desgraça de quem é realmente bom a esparramar-se no sofá... Do que se trata é de nos deixarmos guiar pelo curso natural e lógico dos eventos do universo, de nos deixarmos fluir em harmonia e simplicidade com o que nos deparamos na vida, mesmo que para isso, por vezes, coloquemos de lado alguns preceitos morais ou rigidez de princípios.

A imagem que monto a partir de toda esta densidade de ideias, talvez por falarem de espiritualidade, fluidez e mestres, é de um Tom Curren ou Rob Machado, a surfarem despreocupadamente de Twin-Fin... Aquele seu minimalismo habitual de gestos, cometidos, apenas, na intenção de permanecer trimming the wave, de se deixarem levar com gozo e fluente elegância.

É assim que também eu aprecio surfar, se bem que é igualmente verdade que a minha maçarrice não me ofereça muitas alternativas… Mesmo que quisesse, nunca conseguiria ornamentar o meu surf com big-moves... Por conseguinte, vou tentando fazer um surf na linha correcta… Naquela em que a onda me pareça querer levar!

Acho que é assim na vida como no surf… Ou será que é assim no surf como na vida?

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A Costa dos Murmúrios

Fotografia de Damien Poullenot


'Lago das Viúvas’. Numa linha costeira com tantas 'igrejas', 'mesquitas' e 'sinagogas', um lugar com tamanho cognome não deve ser nomeado alto, apenas sussurrado, em sinal de respeito...

Sexta-feira passada na Caparica, mar pequeno mas com boa vontade, aproveitei o vento offshore para me pentear também. Se ele dá aquela beleza às ondas, podia ser que desse um jeitinho em mim também. Não deu, ninguém faz milagres, mas despir o fato antes de ir para o emprego é coisa que engrandece a alma e, no fundo, o que conta é a beleza interior…

Ao mesmo tempo, com ondas roçando o triplo das merrecas que apanhei, no tal lugar de má memória para tantos, um amigo meu enchia a sua de boas. Não é desrespeito, é memória de surfista, dura enquanto não aparece a próxima. E o silêncio, mesmo enquanto me contava a experiência, apenas foi quebrado por força de um teclado mais barulhento.

Ontem o mesmo amigo convidou-me para me juntar na surfada. Em boa hora tive um móvel para montar, ele é desses que sabe onde encontrá-las grandes e boas. Como é coisa que vai um pouco contra o ‘Sophia Would Go’, lema de uma organização ultra-secreta à qual pertenço e que me rege a vida no mar, tirei uma nota mental para rever os limites da mesma e fui treinar apneia entre aparafusamentos, para futuros e mais profundos caldos que me esperem.

Sei que, nesta coisa de andar nas ondas, há coisas que são uma tempestade num copo de água. Não há que ter medo pois no fundo é tudo muito simples: a partir do momento em que decidimos ir lá para dentro, é remar com força e aproveitar a boleia. Inspirar a imensidão e cingirmo-nos à nossa pequenez.

Os sets que nos apanham a meio caminho, uma bula pequena por tão grande proveito, pedem sucessivas e silenciosas vénias para entrarmos em solo sagrado...

Em sinal de respeito.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Como Peixe Na Água

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Imagem de Sprout, filme de Thomas Campbell


Comecei a fazer surf relativamente tarde...

No entanto, sendo sabida a relatividade do tempo e a tortuosidade das linhas em que se escrevem os nossos destinos, deve ter sido algo que fiz com pontualidade britânica. Mas isto sou eu, que acredito no efeito borboleta.

Os Japoneses, mais que qualquer outro povo, acreditam que o caminho para a sua venerada Perfeição é a repetição. Não é apenas tentar, falhar e tentar de novo para falhar melhor ou por menos. É acrescentar às palavras de Samuel Beckett o atingir, o de novo tentar e o atingir melhor, mais perfeito.

Na ilha de Kauai acredita-se que, independente do quanto, ser feliz com o que se tem é sinónimo de riqueza. Para quê ter muito se não houver tempo para dele disfrutar?

Eu tenho uma prancha mágica. Traduzindo para japonês, se passasse o resto da vida a surfar com ela, a aperfeiçoar cada movimento, a conhecer todas a suas respostas, não seria tempo desperdiçado. Pelo satisfação que espelho em cada surfada, no Kauai tomariam-me por latifundiário.

Apesar de saber que tenho o infinito para explorar na minha 9’6”, vou comprar uma outra. ‘Alargar horizontes’, ‘uma peça de colecção’, até já o justifiquei para mim mesmo como ‘uma pequena paixão’. Esta última, revelou-se determinante pois, como dizia o poeta, não lhes convém resistir…

Até porque, não deixa de ser um aprimoramento. Vou ver como é o surf com um peixe na água. Não sendo uma borboleta, ouvi dizer que é voador...
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