segunda-feira, 8 de junho de 2009
Baú das Recordações - CICLO DA VIDA
Sou escravo do capitalismo e vivo no ocidente onde essa tal coisa é próspera e está por todo o lado. Surfei muito durante 4 meses mas precisava de dinheiro... estava teso apesar de me sentir bem... todos ao meu redor me diziam... acabas por te fartar. Não deu tempo... Por causa das tosses lá fui a uma entrevista... e aí vai ele pra Chelas 3 dias depois....!
Todas as manhãs saio de casa, ligo o carrinho alugado e ouço a telefonia... 94-Oeste até à Malveira e Orbital enquanto paro nas filas de Lx. Nem penso como estará o mar. Mesmo quando me telefonam a avisar que está bom - algum amigo mais incauto ou dos outros que apenas aparentemente me querem 'bem' - tenho a mente em piloto automático. Sigo calmo e sereno. Ignorando apitadelas e sinais de luzes, alguns chicos espertos e outros quantos azelhas.
Para trás ficaram muitos momentos de pura hipnose como o de cima. Muitas horas de sol, areia e brisas marinhas. Demasiadas horas à espera da maré certa. Imensos km's em busca do pico perfeito e isolado que invariavelmente aparecia dia após dia.
Mas agora ganho dinheiro. Aquele que me suporta os vícios das viagens, dos almoços em bons restaurantes e do gasóleo cada vez mais caro. Já vou poder trocar o quiver se me apetecer. Ou comprar um novo short pró verão que o velho arranha-me o pescoço. Estava até a pensar em instalar um GPS no carro para não me perder na próxima vez que decidir deambular pela costa alentejana perdendo assim o direito a esse prazer que é para mim perder-me...
O tempo esse não pára... os anos de surf entraram em contagem decrescente. O fulgor físico já não é o que era e o frio cada vez se entranha mais depressa e intensamente nos ossos. Entrar à segunda feira no carro rivaliza ferozmente com a contorcionista do Cardinali. As rugas da têz afincaram. As entradas de cabelo começam a deixar de me dar ázo a gozar com os calvos que me circundam...
Estaciono o carro na Obra de 2 milhões de contos que com alguma sorte terá o meu nome gravado numa minúscula placa de mármore ou bronze numa qualquer esquina à mercê de um grafitter mais inspirado. Passo o dia a ouvir berros, telefonemas pouco interessantes e indivíduos stressados com o facto de não estarem a ganhar o tal 'dinheiro' que previam ganhar.
Parece que ando a pairar. Nenhum deles me atinge, nenhum deles me interessa. A gaja que indiferentemente me serve um café. A velhóta que tenta apressadamente atravessar a passadeira à frente do meu veículo da Auto Jardim...
Lembro-me então das ondas... essas que num momento me envolvem e no outro me esmagam contra uma espessa laje. Essas sim... poderosas, imponentes e intemporais. Indomáveis por assim dizer. Tenho esta foto no meu desktop. Passo horas a obesrvá-la. Não porque me ache bonito ou que surfe alguma coisa de jeito... apenas para tentar sacar alguma remeniscência enquanto aguardo que os segundos se sucedam. O que me passava pela cabeça enquanto passava aquelas secções? Pensaria eu no bom que é surfar apesar de teso? No tempo que passei até me conseguir equilibrar na prancha ou posicionar para um tubo? Ou apreciava o barulho e cor do lip que me passava sobre a cabeça? Questionava-me se o meu amigo Maya me iria congelar aquele momento conforme me tinha prometido quando o abandonei na praia de máquina em riste?
Secalhar até estava a pensar que deveria estar a enviar Curriculum's Vitae's pra arranjar trabalho... um que me afastaria das ondas como este.
Em Chelas não as há. Procurei-as nas zonas j, n e m. Nada. Ao pé dos Olivais, das Olaias e junto a Xabrégas. Nada.
Estou definitivamente no sítio errado, brevemente terei que as procurar e desculpem-me desde já os que dropinarei pelo caminho...
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1 comentário:
É a vida, na sua forma mais pura, dura e bruta, conforme diz a música dos Xutos "esta cidade"
Aloha, gostei da história.
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