segunda-feira, 18 de maio de 2009
Baú das Recordações - MAIS UM DIA DAQUELES
Altas ondas, granditas e com power. Mar glass e pouco crowd.
Chega um alfacinha ao estacionamento e diz meio nervoso: 'Que loucura de mar... está metrão ã??? Nunca pensei pá. Pena que só tenho uma 5'9" e a maré está demasiado cheia...'
Nem respondi limitando-me a sorrir enquanto trancava a carroça. Cheguei à areia, estendi o arraial no meu spot de toda a semana e vesti o fatuxo último modelo à la Fanning.
Água gelada de novo e esperei por uma aberta na arrebentação enquanto os tendões gritavam por socorro quando num contexto de 12 ou 13ºC.
'C'a granda metrãozarrãozão...' - pensei para comigo ao ver alguns amigos meus a dropá-las lá bem atrás enquanto me lembrava do risosito amarelo do pintas cheio de autocolantes no carro e madeixas louras. O impacto da onda na superfície vidrada produzia uma espuma maior que qualquer um deles.
O offshore estava menos forte que nos dias passados pelo que algumas das linhas quebravam rápidas demais para quem não tinha prancha práquilo ou kit de unhas instalado. Nitidamente o caso de todos os que lá estavam comigo incluído. Mas iria ser divertido na mesma.
Na memória fica o começar a dropar e ver uma paredaça ao lado toda armada e à espera de ser desbravada.
Apetece congelar o tempo. Parar o mundo e sair da prancha. Percorrer aquela escultura a pé enquanto o silêncio te envolve. Caminhar e começar a marcar com tinta fluorescente todos os pontos onde queres q a tábua passe. Um trajecto de curvas alternadas com segmentos de recta destinadas à aceleração sempre que apontadas à base da onda e para palmilhar secções quando paralela à mesma.
Depois de tudo marcadinho carrego no play. O som dispara das colunas e o trovejar do grosso lip a bater lá em baixo ensurdece tudo e todos. As gotas no rosto e cabelo secam rapidamente dado o offshore e velocidade com que passo pela malta que regressa ao outside. Uns gritam, outros riem-se e há os que me levantam o polegar enquanto remam já cansados.
Dois ou três roundhouses a trezentos precisamente no sítio onde tinha espetado a bandeirola. Mando para baixo de novo, puxo o bottom exerço alguma pressão no tail e encaixo. Esmago o deck com o pé da frente e aponto a minha menina para baixo numa diagonal perfeita quando saio e a onda continua grande e perfeita direita à areia.
O quebra-coco passa dos dois metros pelo que o melhor é pensar já na próxima. Levanto voo. Perco noção do peso e sinto a leveza do ser. Alguma vertigem ataca-me o estômago pois perdi a noção para que lado ficava a água. A calma toma conta de mim enquanto mergulho num banho gélido.
Toda a minha vida quis ser surfista. Sempre quis possuir aquele sorriso característico. O de quem volta pró pé dos amigos no outside depois de ter surfado mais uma onda daquelas que vale mesmo a pena.
Mesmo sem grandes truques ou paneleirices. Umas linhas, umas curvas e um chapelito. Sentir os rails a funcionar e o turbilhão criado pelos finos. Contar as gotas no spray levantado pelo offshore.
Dizia um puto aqui há dias numa qualquer revista da especialidade:
'Cá em Portugal só há 3 ou 4 gajos que sabem surfar.'
Digo eu em nome de muitos de nós:
- Tão enganado estás.
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