segunda-feira, 18 de maio de 2009

Variações - Pensamento do Dia



O apelido do saudoso António. Cabeleireiro, criativo, cantor, homossexual assumido muito à frente para o seu tempo e o autor de sábios versos de onde hoje destaco:

- ‘Só estou bem onde não estou…’

A ambição é virtude ou defeito dependendo do doseamento do indivíduo que a possua. Pode levar-nos ao que julgámos antes nunca alcançar mas também a uma permanente insatisfação e logo, ansiedade e impossibilidade de apreciar o que já possuímos e usufruímos. A minha mulher diz-me que tenho uma grande pancada – assim e sem ir muito além dou-lhe já total razão - e gabo-lhe a paciência de me aturar todas as obras, ampliações, remodelações com que lhe infernizo o dia-a-dia no lar doce lar, que mais não são que uma busca de melhor, de mais conforto e da concretização do que me vai na alma em termos de… ‘ninho’.

Num contexto algo mais relacionado com a maresia, muitas vezes desespero com o sentimento de insatisfação dos demais. Alturas houve em que deixei de surfar com família e amigos e optei por transitar só para o areal de forma a não aturar demagogias como estas:

- ‘É pá ali é que é capaz de estar bom e não aqui…’

- ‘Se tivéssemos parado na outra praia não estávamos a apanhar estas mediocridades …’

Quanto vezes não me deparei noutros países – felizmente que de águas bem mais tépidas que as nossas – a apanhar ondas de calibre substancialmente inferior às que por cá deambulam…? Dezenas de horas de avião e kg de cansaço acumulado, milhares de euros depois para no fim… pior que do mesmo.

Claro que lá apanhei as ondas dos meus sonhos… mas necessitei das de cá para poder usufruí-las condignamente! Diz-se por aí que só damos valor ao que temos quando deixamos de o possuir, e enquanto surfistas sempre fomos associados à mítica e eterna procura da onda perfeita…

E porque não o melhor dos dois mundos? Porque não apreciar as ondas que temos ao nosso dispor e partir em busca de outras numa senda de complemento e não numa pesquisa desenfreada e angustiante…?

‘Então porque raio viajas tu?’ – não me parece que alguém se consiga sentir (quase) completo sem conhecer outras realidades e costumes. Sons e cheiros. Cores e sabores.

E embora continue a afirmar veemente que estou bem onde estou, gosto de saber o que está do outro lado, e a isso não se poderá somente designar de ambição mas sim de curiosidade… embora esta tenha sido a causa principal da morte do gato…

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