Afinal o limite não é o céu.
Estiveram umas ondas daquelas mesmo, mesmo, mesmo boas. Tipo o discurso do contemporâneo Bruno Nogueira mas com a garrafa de lado e de tara azul esverdeada...
A manhã foi começada com uma surfada agradável nas horas com pouca gente e no quintal de casa. Surfei a maré vazia toda e só saí já perto da hora de almoço. Andou tudo de taxa arreganháda tal a extensão e perfeição das onditas... e mais pró fim a coisa até começou a ganhar volume mas o cansaço resolveu fazer das suas e tive mesmo que 'abalar' rumo ao beach break mais próximo – leia-se snack bar.
Almoço bem regado com maralhál que teima em se preocupar com uma possível depressão da minha pessoa dado a complicada situação profissional em que me encontro e depressa regressei ao pico.
'Estranho... só 3 gajos na água...??? Parque de estacionamento cheio??'
Pus-me na conversa com alguns deles enquanto fui tirando o fato e pu-lo do lado certo já q do avêsso dificulta a remada e fica mal nas fotos... eis que no horizonte aparecem as razões que mantinham toda aquela gente afastada da água.
Linhas infinitas e perfeitas rebentavam ruidósamente no mesmíssimo pico onde de manhã só por algumas vezes deixou a coisa atingir os 2 metros. Outras no entanto partiam fora do sítio mas está por nascer a bela sem senão... Com o almoço ainda às voltas fiz-me a elas e de facto demorava-se um bocado a remar onda acima.
Fizemos altas ondas. Mas altas daquelas dos filmes. Tudo dividido irmanamente e eis q a malta da Ericeira zarpou deixando-me a mim e a um amigo na água. Entra então uma fraca figurinha de cabelo comprido...
- 'Haja algum gadelhudo de coragem' - pensei eu num profundo pensamento anti-metrossexual.
Mais dois ou três drops daqueles com os ditos na garganta e os varrimentos começaram a ser alguns com o virar da maré... olho para a areia e vejo a minha companhia de surfada com a segunda prancha partida da semana.
'Mais uma e bazo que ainda me salta alguma perna fora se o shop não rebenta…'
Vem aquela muiiiiiita grande lá no horizonte e num pensamento do contexto daquele 3 parágrafos atrás saio-me com um 'não és homem não és nada caraças'... - acho que rangia os dentes, estava com cara de poucos amigos e de olho do cú apertadíssimo - tudo para esconder o pânico e medo instalado óbviamente.
Remo desalmadamente e a rapariga vira-se para mim a começar a remar que nem uma doida mas com uma calma impressionante e diz: 'Consegues entrar ou vou eu...?'
Caiu-me tudo ao chão.
Naquela onda ultrapassei todos os meus limites. Surfei depressa demais, dropei de uma altura grande demais, levei o meu pobre coração a rotações exageradas e levei uma lição anti-machismo das que não há memória.
Vim desde lá detrás com os olhos esbugalhados e fui esmagado pela espuma do quebracôco...
Quando saí ofegante e vou a subir a escadaria diz-me um dos hot locals da Consolação:
- 'Aquela onda tinha bastante mais que o dobro do teu tamanho má frend'
Ao que respondi:
- 'Tive que a apanhar ou a gaja que estava lá dentro tirava-ma...'
Partimo-nos a rir e vim relaxar o corpito já a seco e a salvo.
'O limite não tem sexo' - é a lição a retirar de mais um dia de desemprego bem passado.
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