domingo, 9 de dezembro de 2007
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Toots e Eu!
"Senhoras e Senhores, Toots Thielemans"
Talvez tenha sido assim que começou, há uns anos atrás, o concerto de Toots no Coliseu de Lisboa. Digo "talvez" porque não sei. Algum imperativo levou a que não fosse ver ao vivo um dos músicos que hoje tenho como um dos meus preferidos, e que na altura acabara de descobrir. Cheio de penas me deito e, com o passar dos anos, com mais penas me levanto.
Não sei se o que apareceu primeiro foi galinha ou o ovo, mas sei que foi também a partir dessa altura que descobri a harmónica cromática, que a comecei a tocar e que se tornou , também ela , num dos meus instrumentos de eleição. Mas falemos de Toots.
Nascido na Bélgica, onde durante o período da invasão nazi, se descobriu no Jazz, emigrou aos trinta anos para os States, acabando por encontrar em Nova Iorque um dos seus ídolos, Charlie Parker, e onde passou a integrar a sua All Stars Band, de que Miles Davis fazia então também parte.
Foi em 1962 que compôs a sua obra-prima, Bluesette, que já vem tocando ao longo dos anos com as mais variadas e influentes personalidades do mundo do Jazz e não só. O homem que diz sentir-se melhor no pequeno espaço entre uma lágrima e um sorriso,de Bluesette disse uma vez, ser o seu"very own social security number".
"Everybody Loves Toots (or they should if they don´t)" seria o nome com que eu baptizaria um álbum se um dia gravasse algum, coisa que sem falsas modéstias, me parece pouco provável. Gostava que vissem aqui um bocadinho do que vos falo, e pedia aos leitores mais apressados e menos fãs de Jazz que o vissem até ao fim, pois há nele mais do que meios tons e compassos.
Até então, já sentia uma profunda admiração pelo homem e pela música, mas (e remetendo para o universo surfístico) uma coisa é idolatrar Kelly, Rob, Tudor ou Parko...uma outra coisa...é vê-los surfar na "nossa" praia. Uma coisa é vê-los em Jeffreys, Pipe, Malibu ou Snappers...uma outra coisa...é tê-los ali, no sítio onde surfamos com frequência, olhar e ver o que fazem na parte mais mole da onda que tantas vezes percorremos, e como passam aquela secção que cai e que sempre nos esforçamos para passar. Medir-lhes os passos da areia à água...
É essa a minha sensação quando oiço "The Brasil Project".
Não que eu tenha composto as músicas claro, e também não é que as toque assim com frequência, mas na prespectiva do surfista que olhando o mar está sendo, também não o estará o músico quando ouve? Sendo?
É deste modo que a bossa é a minha praia e o Toots o local de outras ondas que aparece no pico e as rasga com graciosidade e harmonia únicas, enquanto eu vou remando devagarinho lá para fora atento à maneira como transforma em óptimo aquilo que eu já achava tão bom.
E tudo isto porque descobri que havia um segundo volume. O "The Brasil Project Vol.2". Não é propriamente recente pois foi gravado em 1993, mas desconhecia a sua existência. Dizem que não há amor como o primeiro. Bem...a ver vamos, como diz o...Stevie Wonder.
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Mike Wazowski
No filme “Monstros e Companhia”, que o meu puto T, com a sua típica obsessão dos 3 anos, já me 'obrigou' a assistir uma boa centena de vezes, existe uma cena em que o Mike Wazowski, o pequeno monstro redondo e verde de um só olho, observa pela primeira vez uma revista onde ele aparece na capa. Curiosamente, o código de barras foi disposto de tal forma que quase oculta a sua pequena figura – "I can't believe it!” – reage ele com um ar extremamente sério, e, após uma pequena pausa – “I'm on the cover of a magazine!" – diz ele na maior explosão de alegria!
Lembrei-me disto quando ontem folheei pela primeira vez a “SplashMag” e verifiquei que, em letras pequenas e como rodapé de uma das fotos do índice, aparecia uma curta citação aqui do Vagueares, ou seja, não foi propriamente na capa, nem eu explodi propriamente de alegria, mas apreciei, de forma sincera, a consideração!
A revista chegou-me ontem a casa, apenas um par de dias depois de ter telefonado para a assinar – o número encontra-se no site da revista onde aparece disponibilizado para o efeito. Quem me atendeu foi o Tiago Grosso, com quem tive a oportunidade e o prazer de trocar algumas impressões. Apercebi-me que não está exactamente no mar de rosas que poderíamos ingenuamente supor para um director/editor de uma revista de surf (estendido ao sol nas Maldivas, entre a surfada da manhã e da tarde, apenas com o stress deixado pelo embaraço da escolha do seu próximo destino – “Hawai ou Indonésia? Bolas!”).
Na verdade, pelo que me contou de forma breve, enfrenta um grande número de contrariedades para conseguir levar o seu projecto em frente – “O mercado está feito para as grandes publicações”. Não era, no entanto, um tom lamurioso ou de desencanto que lhe pautava a voz ao telefone, pelo contrário, quem o escutasse, facilmente lhe adivinharia um brilho nos olhos a acompanhar o entusiasmo com que falava nos próximos passos a dar… Parece-me ali haver firmeza, vontade e empenho, pelo menos, em igual medida aos obstáculos que têm a defrontar.
Parecem-me estar a trilhar o melhor caminho, não aquele que os conduzirá a breve trecho para a fama, a riqueza, ou para o tal stress, tão desejável, nas Maldivas, mas sim antes, para aquele que os manterá a fazer o que mais gostam através da busca incessante pela excelência. Os irmãos Campbell, inventores do conceito das bonzers e das primeiras tri-fins, inscreviam de forma ingénua nas suas primeiras pranchas, slogans como "Always For Love, Never For Money", ou “Love Over Gold”, claro que mais tarde chegaram à conclusão que um certo sucesso comercial seria desejável e necessário, o truque seria participar no mercado, mas não deixar que ele os conduzisse ou que os tornasse dependentes.
Reparem se o preciosismo na escolha dos selos com que me enviaram a revista não reflecte isso mesmo…
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Great Expectations
Já a tenho.
É um beachbreak lindo, só falta o swell...
Era para descrever todos os pormenores mas, por ora, aguardo. Por mais que escrevesse faltaria o teste final, a marca de água e, por enquanto, Mar, apenas o de expectativas.
Há também outra razão. Um dia destes, meio à pressa, passei os olhos nos destaques de um daqueles jornais que se lêem rápido e, condicionados com a canção simples que trazia no ouvido, os meus olhos pararam nesta frase: ‘As coisas mais felizes que escrevi eram muito pirosas e não gostava muito delas’. Uma entrevista ao Tiago Bettencourt de que não li mais nada mas fiquei a pensar na frase, se era aplicável aos meus escritos. E era.
Escrever extasiado de felicidade, encadear palavras que a transmitam e que não percam seu sentido no tempo, é coisa dos grandes mestres. Aos mortais escrivães resta escrever sobre a égide de outras sensações. Ou mudar o ponto de vista.
Aqui até é fácil porque, assim que a tive nas mãos, acabou uma espera mas iniciou-se outra. Num instante a alegria transforma-se em saudade... do futuro.
E seus tons de areia e água.
ITHAKA (aka Darin Papas)
Ou a forma de transformar uma thruster numa "fish"!
O espaço onde pretendia colocar a entrevista realizada na altura nunca chegou, no entanto, a concretizar-se, pelo que, com alguma pena minha, ficou guardada na gaveta!
Há uns dias atrás, porém, recebi, com agrado, um mail com a divulgação da exposição "The Reincarnation of a Surfboard” (by Ithaka) que inaugura hoje, dia 22 de Novembro e que estará patente até ao dia 22 de Dezembro na galeria de arte contemporânea WOA (Way os Arts), em São João do Estoril.
E, a propósito da efeméride, achei que fazia todo o sentido vir partilhar aqui a nossa conversa mesmo que com o atraso de um ano. Quem sabe, criar-vos a curiosidade e evitar que percam a oportunidade de conhecer de perto o seu trabalho.
A entrevista segue em Inglês por achar que, de alguma forma, se poderia perder algum substrato numa tradução.
- One of the facts that surprise me the most in you is the amount of different activities that you embrace in your life. You are a musician, writer, photographer, sculptor, surfer…What do you usually answer when people ask you what you do for a living?
That usually depends on who I'm talking to and how I will relate to that person, and if I have something in common with that person or not. Sometimes it gets confusing trying to define myself, so I'll simplify and choose one vocation or I'll just say I'm an "audio-visual artist".
- And how do you relate with money? You have been so many times in difficult (limit) situations for the lack of it, isn't it?
I've had a great life in some many ways and am in NO position to complain, but I've had strange relationship with money ever since I came to this planet... For the most part, financially it has seemed like a real struggle.But the important thing for me to remember is to stay active, stay creative, and stay travelling and keep surfing even if it's not financially comfortable to do so; these are all essential to my well-being and happiness.Meaning......... I somehow always get shit done whether I have the money to do it or not or whether or not I'm being paid or not.But unfortunately....... sometimes things take longer than I'd like...
(A LOT longer than I'd like), this is the main drawback of being an indie artist.Patience is something I have begun to learn over the years out of necessity.
- I know you came to Portugal with nothing but a one way ticket and a few dollars in your pocket. We don't always need a lot of resources to travel and that has been a constant in your life. Do you have an idea in how many countries you have been? Can you name them all?
(Photo: Ithaka, self-portrait near Mombasa, Kenya 1997)
Probably not as many places as some people might think. But some of the stays have been for very extended periods of time.
Portugal (6 years), Brazil (1 year), Japan (1 year), Greece (6 months) + visits to Cabo Verde, Mexico, Peru, Indonesia, Philippines, Morocco, New Zealand, Tanzania, Kenya... and Spain, France, England, Germany, Holland, Switzerland.
- What does travelling mean for you? What do you usually seek in a trip? I suppose it has nothing to do with staying in a resort with all included…
I'm usually visiting friends, working on some kind of project, surfing or just plain backpacking...except for occasional paid work trips the voyages are usually absent of luxury, very frugal, Lonely Planet-style kind of adventures. (I'm really not interested in all- enclosed resort type atmosphere).
Travelling gives me energy, gives me inspiration, keeps me healthy and interested in life and people.
Being out on the street is the best way to experience any place. Getting to know the life of ordinary native people.
I like seeing how they survive, what they wear, what they eat, what kind of entertainment they dig etc....
I love photographing on trips.
- What will your next travel be?
Hopefully Australia (next month) to deliver a surfboard sculpture to a client in Sydney.I've never been there. and am excited to know the place.
- Let's go back to what you do.
When I read about your work, especially in your site, there was a project among the others that caught my attention, it's called "Quality Time" if I'm not mistaken. For what I understood the project consisted in closing yourself in a relatively small space, like an apartment, were you would have to photograph whatever was there…that is, you would have to turn small objects in valid photographic models, giving them new life and possibly a new meaning
I find this project interesting because it represents somehow what you do with your creations and your life. Do you agree?
(Photo: Quality Time, Tokyo)
This was a photo/text experiment I did in Tokyo about "forced" creativity, spontaneity and using what you have in front of you in a small, confined space.......in a limited amount of time.I spend most of my life using BIG things, BIG places for fuel, but not ever art-adventure has to be a actual physical "voyage"...this was about 'inner exploration'.
- How did you begin to use surfboards as raw material for your sculptures? What meaning do you give to that?
(Sem Título, Escultura 2004)
I was a photographer living in Hollywood, a little too far from the ocean to enjoy it on a daily basis, but once while surfing, I broke one of my own boards by accident. I eventually turned it into a wall hanging sculpture. Friends saw it and brought me more boards to work on.... that’s how REINCARNATION OF A SURFBOARD project was born, I've been doing them ever since then.
- What is your motivation in doing it?
Working on the pieces keeps me connected with the ocean even when I not near it. It's about giving new life to inanimate objects that have given me personally a life worth living. I've been doing this shit for 17 years and I STILL loving blasting loud hip hop, drinking a lot coffee or energy drinks and "getting busy' on my pieces.I'll never get sick of it.
- By the way, beside recicling surfboards for your sculptures have you ever shaped any?
I tried to shape one when I was about 15- 16 years old, But It was so bad I didn't even bother to glass it.
(Ithaka big wave surfing in Portugal, 1995-98, Photographer unknown)
- And who did your favourite board ever? (Who shaped it?)
Paulo Mandacaru (PMD designs) a shaper from São Paulo who lived in Portugal for many years.I've been riding his boards since 1995.He's now back in Brasil. I am still using PMD boards. I've ridden a few Al Merrick's over the years and liked them a lot. I had a great board from Pete Johnson (Hawaii) too.
-What place would you choose to live and surf? Not only because of the waves, but also for all things that are important to you?
LISBON was one of the most perfect places in the world for me. I think I discovered who I REALLY am there (an urban/ocean genetic hybrid mutante).It's a great blend of city meets ocean..great urban culture and great waves There aren't many interesting places in the world that have both next to each other like that. Right now I live in Rio. Rio is excellent as well. The culture is fascinating and the waves are A LOT better than most people will ever know. I'd also like to know Durban, Luanda and Maputo, Maybe someday I'll try a total natural surf environment , but I doubt I'll ever be in a big city that doesn't have quick access to the surf.Many people think I should move to New York for my career. I love New York, but the surf is too far from town and REALLY COLD in winter!!!!!!!!!!!!
(Ithaka surfing Ponta Delgada, Madeira Portugal, 1995, Photograph: João Valente)
- And in Portugal, what was your favourite spot to surf?
Madeira, Azores!!!!!!!!! On the continent; Coxos, Supertubos, Arrifana, Carcavelos.
- In the most hardcore surf movie I know, Second Thoughts from Timmy Turner, we hear your sound…how did that come to happen?
I heard he was doing the movie and sent him some cds. He licensed the song, THE PLOT and then never got back to me.I thought he edited it out, I only knew the song was in there for sure because of the SURFER POLL awards.
(Ithaka surfing in West Africa, 2004, Photograph: Joao Barbosa)
- Does surfing inspire you in the lyrics you write and the sound you make?
Definitely, ALWAYS... some songs are about surfing and sometimes it's just a general energy force, not a specific inspiration.
- And how about the opposite? Does your sound inspire you to surf?
... Don't think I've ever listened to my own albums before a session,but music in general definitely gets me hyped up for a surf. Hip hop and funk specifically ...and sometimes rock and dance tracks.
- I know you have recently recorded an album in Portugal, "Remixed in Lisbon", what can you say about it?
It's called ITHAKA: REMIXED IN LISBON BY BULLLET. Lisbon-based BULLLET (founded by Armando Teixeira) is using the occipella vocal recordings from my last album RECORDED IN RIO and will do all new instrumentals for ten of the tracks + four all new songs that we already recorded when I was last in Portugal (4 months in spring 2005).
- What are you up to, what projects do you have now?
(Ithaka surfing the newly discovered Jardim do Mar, 1995, Portugal)
I'm in California at the moment working on new sculptures and visiting family.
In Rio (before I left) Tito Gomes and I had just finished preproduction on a new ITHAKA album called "RAVENSHARK CHRONICLES". Basically the album is finished except for the vocals which I am planning to record here in Los Angeles with Conley Abrams (who I collaborated on my album SOMEWHERE SOUTH OF SOMALIA). There is a new remix of IN PORTUGAL by TITO GOMES up on www.myspace.com/ithakamusic.
In addition to REMIXED IN LISBON BY BULLLET, I am working on a spoken word story album called "CACTUS CRATER" with Franco-Portuguese producer called Henri Sanrame (who is a great Setubal-based producer/engineer who works with DJ VIBE etc)... this is a kind of 70 minute novel with ambient music and sound fx.... we recorded the guide voice in 1995 and henri has been putting all the pieces together... should be funny and weird I'm looking forward to it... I'm hoping to come back to Portugal this year to finish this project.
Other things:
The Ithaka song WHO'S THE ENEMY? (featuring GABRIEL O PENSADOR) is in the new SAVE THE WAVES COALITION surf documentary about Madeira directed by Jacob Holcomb called "LOST JEWEL OF THE ATLANTIC". A new version of SEABRA IS MAD will appear in Greg Schell's surf flick "CHASING THE LOTUS" written by Jaymie Brisick narrated by actor, JEFF BRIDGES. The song, WHATCHA GOTTA DO just got licenced for the soundtrack of a new XBOX 360 basketball game calledNBA 2K7... (MOS DEF and JURASSIC FIVE are also on the soundtrack
Nota: As últimas perguntas, que se debruçam sobre os trabalhos mais recentes do Darin, foram respondidas à cerca de ano e meio, pelo que, como é óbvio, encontram-se um pouco desactualizadas e incompletas... Entretanto foi lançado um novo álbum de Ithaka, SALTWATER NOMAD.
Partilho ainda o post scriptum do último mail que trocámos para a concretização desta entrevista…
ps:...I got up EARLY this morning and surfed perfect waves at 60th street newport beach6 foot+ and super hollow I ate shit a bunch of times, but ended up getting the best tube I've had in six months.Thank you Lord Neptune!
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
O amor é como uma alga verde!
Era reguila em pequeno, mas por entre as tropelias e a par das traquinices, era também um miúdo meigo e bem-intencionado.
Lembro-me de num dia, ao ver a minha irmã, um ano e meio mais velha do que eu, a oferecer uma flor à minha mãe, lhe imitar o gesto. Nessa altura, do pouco de que me consigo lembrar, é que era costume seguir-lhe os passos – a imitação é sempre uma das primeiras formas de admiração – eu admirava-a e aprendia com ela as coisas de crianças, os jogos, as brincadeiras e, na mesma medida e importância, a forma de manifestar os meus sentimentos.
Dizia eu que, ao tê-la visto oferecer uma flor à minha mãe, teria feito a mesma coisa, bem, na verdade, não foi exactamente assim… A interpretação que na altura eu, no cimo dos meus 3 anos, consegui realizar, não alcançou que era com a beleza da flor que a minha irmã pretendia cativar a atenção da minha mãe… Colhi pois, o que me estava mais à mão, umas ervas, ao que parece. É claro que, a minha mãe, cumprindo o seu papel, se mostrou encantada com ambas as ofertas.
Não me posso deixar de rir para dentro, ao pensar que aprendi bem cedo, e graças à influência e presença feminina na minha vida, alguns gestos de sedução (obrigado mana, confesso que já me tem sido útil).
Deslindo ainda, por entre as minhas memórias de infância, um episódio semelhante, desta feita já mais velhinho e também já consciente da importância da qualidade da oferta.
Estava na praia a brincar entre os calhaus, a explorar o mundo, para mim fascinante, que se expunha e revelava pela maré vazia. Recordo-me que tudo se passou na altura em que realizava a minha travessia pelos sete mares, por entre lutas titânicas com terríveis monstros marinhos… Vendo agora, talvez não fossem mais do que sete pocinhas e de dois ou três caranguejos com que me tenha deparado, mas, a questão que aqui importa, é que descobri por entre este cenário a alga mais nobre de entre as algas… Bom, pelo menos assim me terá parecido também na altura… Ondulava por entre os brilhos reflectidos pela água retida entre rochas evidenciando toda a sua beleza natural. Na minha ingenuidade de criança e dando largas ao meu lado sedutor, resolvi de imediato recolhê-la para, agora sim, oferecer algo de verdadeiramente grandioso à minha mãe.
A oferta não alcançou, no entanto, o objectivo em vista, a alga, ainda agora tão deslumbrante, perdera fora de água, na minha mão, o vigor e a beleza com a qual a terei encontrado. Fora do ambiente aquático ela não se revelava, aparecia murcha e sem graça… A minha mãe, no entanto, e por estranho que pareça, voltou a sorrir agradecida. O que nós podemos aprender com as mulheres…
Lembrei-me desta história durante a última surfada que dei. Já tinha entrado no mar pela manhã, talvez numa das sessões mais proveitosas deste ano, estava cansado, mas ao fim da tarde, com o sol a começar a debruçar-se no horizonte e na ausência de vento, não resisti e entrei novamente.
Assisti na primeira fila a um pôr-do-sol magnífico e uma estranha sensação de conforto apoderou-se de mim, de facto, confesso, toda esta história saltou do baú, devido ao facto de, e por muito ridículo que isto possa soar, me ter sentido, naquele momento, como a alga que encontrei anos atrás no seu habitat natural… Um ser marinho, no seu meio próprio, a revelar toda a sua natureza e… satisfação!
Deixei-me ficar dentro de água até escurecer profundamente e, naquela praia, fui o último a sair!
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Menina Meu Mar
De forma intuitiva,
escudámos o nosso segredo
junto ao mar
e,
na pouca lógica que nos assiste,
isso teve algum sentido.
Já cansada de te debateres,
rendeste-te,
por fim,
ao meu colo
sossegada,
e o murmúrio das vagas,
também elas já esgotadas,
confortou-nos por momentos.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Stranger Than Fiction
Não acontece muitas vezes...
Naqueles dias em que somos muitos, mas mesmo assim apanho, senão 'a', uma das ondas do dia, não deixo de me sentir um Bruce Willis, com a minha prancha no papel de Maria de Medeiros, curiosa sobre o nosso meio de transporte...
E tudo parece ficar para trás...
___Fotografia de Thor Jonsson
.
Fabienne: Whose motorcycle is this?
Butch: It's a chopper, baby.
Fabienne: Whose chopper is this?
Butch: It's Zed's.
Fabienne: Who's Zed?
Butch: Zed's dead, baby. Zed's dead.
Quentin Tarantino, Pulp Fiction
.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Dolce Fare Niente
“… Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.”
"Tao Te Ching", Lao Tzi - 道德經 (Cap. 48)
Diz que por ocasião da última visita de Bill Gates a Portugal, alguém lhe terá perguntado qual o segredo para o êxito profissional, a que ele, segundo dita, terá muito prontamente respondido que bastaria colocar todo o empenho naquilo que mais se gosta de fazer.
Quem me contou este episódio foi um amigo, que estava, na altura, muito intrigado e reticente com o facto de efectivamente poder vir a ser multimilionário, empenhando-se, simplesmente, em se esparramar no sofá.
Aplicando a mesma leveza de interpretação às sábias palavras do Velho Mestre (agora não do Bill, mas sim do Lao Tzi), talvez ainda viéssemos a dar alento e reforçar as esperanças ao meu amigo… Se bem que o domínio de que agora se fala seja de índole espiritual.
No entanto, e na verdade dos factos, a “não-acção” (ou “wu-wei” para os nossos amigos chineses) a que frequentemente a filosofia Taoista se refere, não significa propriamente “nada-fazer”… Isto para desgraça de quem é realmente bom a esparramar-se no sofá... Do que se trata é de nos deixarmos guiar pelo curso natural e lógico dos eventos do universo, de nos deixarmos fluir em harmonia e simplicidade com o que nos deparamos na vida, mesmo que para isso, por vezes, coloquemos de lado alguns preceitos morais ou rigidez de princípios.
A imagem que monto a partir de toda esta densidade de ideias, talvez por falarem de espiritualidade, fluidez e mestres, é de um Tom Curren ou Rob Machado, a surfarem despreocupadamente de Twin-Fin... Aquele seu minimalismo habitual de gestos, cometidos, apenas, na intenção de permanecer trimming the wave, de se deixarem levar com gozo e fluente elegância.
É assim que também eu aprecio surfar, se bem que é igualmente verdade que a minha maçarrice não me ofereça muitas alternativas… Mesmo que quisesse, nunca conseguiria ornamentar o meu surf com big-moves... Por conseguinte, vou tentando fazer um surf na linha correcta… Naquela em que a onda me pareça querer levar!
Acho que é assim na vida como no surf… Ou será que é assim no surf como na vida?
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
A Costa dos Murmúrios
'Lago das Viúvas’. Numa linha costeira com tantas 'igrejas', 'mesquitas' e 'sinagogas', um lugar com tamanho cognome não deve ser nomeado alto, apenas sussurrado, em sinal de respeito...
Sexta-feira passada na Caparica, mar pequeno mas com boa vontade, aproveitei o vento offshore para me pentear também. Se ele dá aquela beleza às ondas, podia ser que desse um jeitinho em mim também. Não deu, ninguém faz milagres, mas despir o fato antes de ir para o emprego é coisa que engrandece a alma e, no fundo, o que conta é a beleza interior…
Ao mesmo tempo, com ondas roçando o triplo das merrecas que apanhei, no tal lugar de má memória para tantos, um amigo meu enchia a sua de boas. Não é desrespeito, é memória de surfista, dura enquanto não aparece a próxima. E o silêncio, mesmo enquanto me contava a experiência, apenas foi quebrado por força de um teclado mais barulhento.
Ontem o mesmo amigo convidou-me para me juntar na surfada. Em boa hora tive um móvel para montar, ele é desses que sabe onde encontrá-las grandes e boas. Como é coisa que vai um pouco contra o ‘Sophia Would Go’, lema de uma organização ultra-secreta à qual pertenço e que me rege a vida no mar, tirei uma nota mental para rever os limites da mesma e fui treinar apneia entre aparafusamentos, para futuros e mais profundos caldos que me esperem.
Sei que, nesta coisa de andar nas ondas, há coisas que são uma tempestade num copo de água. Não há que ter medo pois no fundo é tudo muito simples: a partir do momento em que decidimos ir lá para dentro, é remar com força e aproveitar a boleia. Inspirar a imensidão e cingirmo-nos à nossa pequenez.
Os sets que nos apanham a meio caminho, uma bula pequena por tão grande proveito, pedem sucessivas e silenciosas vénias para entrarmos em solo sagrado...
Em sinal de respeito.
.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Como Peixe Na Água
Imagem de Sprout, filme de Thomas Campbell
Comecei a fazer surf relativamente tarde...
No entanto, sendo sabida a relatividade do tempo e a tortuosidade das linhas em que se escrevem os nossos destinos, deve ter sido algo que fiz com pontualidade britânica. Mas isto sou eu, que acredito no efeito borboleta.
Os Japoneses, mais que qualquer outro povo, acreditam que o caminho para a sua venerada Perfeição é a repetição. Não é apenas tentar, falhar e tentar de novo para falhar melhor ou por menos. É acrescentar às palavras de Samuel Beckett o atingir, o de novo tentar e o atingir melhor, mais perfeito.
Na ilha de Kauai acredita-se que, independente do quanto, ser feliz com o que se tem é sinónimo de riqueza. Para quê ter muito se não houver tempo para dele disfrutar?
Eu tenho uma prancha mágica. Traduzindo para japonês, se passasse o resto da vida a surfar com ela, a aperfeiçoar cada movimento, a conhecer todas a suas respostas, não seria tempo desperdiçado. Pelo satisfação que espelho em cada surfada, no Kauai tomariam-me por latifundiário.
Apesar de saber que tenho o infinito para explorar na minha 9’6”, vou comprar uma outra. ‘Alargar horizontes’, ‘uma peça de colecção’, até já o justifiquei para mim mesmo como ‘uma pequena paixão’. Esta última, revelou-se determinante pois, como dizia o poeta, não lhes convém resistir…
Até porque, não deixa de ser um aprimoramento. Vou ver como é o surf com um peixe na água. Não sendo uma borboleta, ouvi dizer que é voador...
.
domingo, 23 de setembro de 2007
You Go, We Go.
Se a qualidade do filme 'Mar de Chamas' (Backdraft) fosse medida na intensidade da cena em que este título é dito, teria por certo ficado muito perto do Oscar. Assim terá quedado sua glória nas prateleiras do clube vídeo do Sr. Torres e nas minhas memórias de menino.
Já me começava a sentir em falta para com o Pedro e o Luís. Afinal de contas, este é um blog que faz sentido pela nossa heterogeneidade. Como tronco comum temos o Surf, que reduzido à sua essência será sempre o Homem, a Prancha e a Onda. Como identidade temos a nossa perspectiva individual, tão variável quanto a linha de onda de cada um. Como motivação, a certeza de nos rever-mos muitas vezes nas palavras uns dos outros. Ainda assim, apesar dessa subscrição implícita, faltava textualizá-la.
Eu julgo que, como todos nós, em cada braçada para apanhar uma onda me comprometo a tornar isso mesmo, que para desfrutar do seu alvo desfecho mergulho no vazio, que todos meus movimentos, mais do que se vais, leva-me também, lhe dizem se fores, eu vou...
Eu sei que, entre o surf e a vida, já devia ter arranjado tempo para dissertar acerca desta 'união salgada', que é esse o compromisso. Neste caso, falar sobre aquilo que se gosta nem sequer é difícil, para nos inspirarmos basta vaguear.
Se forem, escrevam qualquer coisa...
.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Forever Young
Youth Group - Forever Young
It's so hard to get old without a cause
I don't want to perish like a fading horse
Youth's like diamonds in the sun
And diamonds are forever
A primeira vez que esta quadra me chegou aos ouvidos foi curiosamente pela voz de uma imitação do Marian Gold e dos seus Alphaville, num programa televisivo onde as estrelas choviam. Contava na altura quatorze primaveras e aquela melodia que conferia uma toada épica a frases fortes como "Are you gonna drop the bomb or not?", demorou alguns dias (desses que aos quatorze se parecem estender por 48 horas) a evadir-se da minha mente. A guerra fria tinha chegado ao fim havia já três anos e era já mais que certo que, felizmente neste caso, ninguém "dropava" a bomba.
No entanto enquanto não chegava a notícia da morte do filho bastardo do grunge, Kurt Cobain, houve sempre uma bomba prestes a cair. Pelo menos até aos dezasseis. Havia o livro de São Cipriano, que levaria à loucura aquele que o lesse de trás para a frente. Havia o mito das bombas de água oxigenada, os carrinhos de rolamentos e a sua relação causa-efeito com a quantidade de gesso por turma. Até "sofrer o desgosto de vestir como os Dj´s" aos dezasseis, haviam as bandas. Havia o rock....muita electricidade. E houve muito mais. Era a revolução da música e dos músicos. Ainda me lembro da contra-capa de uma revista da época na qual estava impressa uma frase que espelhava bem o espírito da altura.
"Better to live in the eye of the hurricane than to suck capuccino with record producers".
Agora que começo a desconfiar que não vou ser novo para sempre, e embora muito importe o que se deixe (na juventude), começo a apreciar o que dela se traz. Interessa trazer os diamantes , porque eles são para sempre. Com a ressalva de que compreendo que o "generation gap" existe desde o principio da civilização, ainda assim não posso deixar de avisar os mais novos de que o telemóvel topo de gama tem um tempo de vida útil baixo, e de que o bronzeado acaba no inverno. Não que eu pense que estes tempos em que cada vez mais contam as aparências sejam uma fatalidade no que toca ao intelecto da juventude. Nem generalizo. Também eu e a minha geração fomos apelidados de "Rasca". Fez-nos bem. Agora chegou a vossa vez. Não temam a sombra porque para o ano há mais e nunca se sintam a salvo. Bombas podem cair todos os dias. O segredo é correr para a frente sem deixar de apreciar o espectáculo das que nos falham por pouco.
domingo, 12 de agosto de 2007
WQS Aquece!
Acabou há momentos o Rip Curl Board Masters, o WQS de 5 estrelas realizado anualmente na Fistral Beach em Newquay, Inglaterra e pode dizer-se que os concorrentes mais directos do Saca, os de topo da tabela, aproveitaram da melhor forma a sua ausência.
O norte-americano Ben Bourgeois ganhou o evento e mostra estar completamente focado nas vitórias, ao fazer duas finais em dois eventos consecutivos (no Japão ficou em 2º). De 4º lugar no ranking WQS passou para 2º, apenas, veja-se, a 24 pontos do Tiago!
O brasileiro Heitor Alves foi protagonista de muitos dos momentos mais radicais de todo o campeonato, fotografia de Damien Poullenot.
Como podem saber, a classificação no WQS (World Qualifying Series) consiste no somatório dos melhores 7 resultados de entre as provas calendarizadas anualmente, pelo que, nesta altura, o Tiago “Saca” Pires precisa de descartar o seu pior resultado que é de 1125pts, uma tarefa mais complicada do que para o Ben Bourgeois, por exemplo, a quem basta obter uma pontuação acima de 813 pts para amealhar mais pontos na classificação geral.
Marlon Lipke ainda passou um heat, mas ficou-se pelo round de 96, tal como o Ruben Gonzalez e o Justin Mujica, fotografia de Damien Poullenot.
O brasileiro Heitor Alves mostrou igualmente que sabe o que anda a fazer, no último evento, no Japão, tinha ficado em 3º (chegando à meia final), desta vez ficou em 2º, curiosamente perdeu das duas vezes para Ben Bourgeois, adiando a desforra para uma próxima oportunidade. Jay Thompson ficou em 3º e encurta para 450pts a distância que tem do 1º lugar.
Com a luta pela vitória do WQS ao rubro, os mundiais seguem agora para França, onde já daqui a dois dias começa em Lacanau o WQS 6* e onde já entrará o Saca (directamente no round dos 96).
O campeonato revestiu-se de muita animação e diferentes focos de interesse, desde skate, a bmx, fmx, concertos e também da escolha da "Nuts Boardmasters Babe".
Como diria uma amiga minha: "Gordas!"
sábado, 11 de agosto de 2007
A Primeira Vez
Não me lembro da primeira vez que surfei uma onda. Aliás, lembro-me muito vagamente. Esqueci os pormenores. Esqueci o que interessa.
Penso muitas vezes se, uma vez chegada a idade em que não possa mais surfar, se as recordações que consiga guardar, de uma onda, um drop, uma fracção de segundo em que sinta a prancha um prolongamento do meu corpo que obedece aos estímulos do cérebro como um dos quaisquer membros, se serão suficientes para me refrear a vontade de fazer o que o corpo já não permite. Será recordar viver? Será sobreviver?
O carismático tube rider havaiano “Mr. Pipeline” Gerry Lopez , interrogado sobre a experiência de um wipe out na mítica bancada de Pipeline no filme “Step Into The Liquid”, responde que: –“...tu pensas que vais morrer! A maior parte das vezes não se morre. Bem, talvez morras...um bocadinho”.
Por vezes dou comigo a pensar se não morro um bocadinho em cada onda que rasgo com as minhas quilhas. Uma troca directa...olho por olho. O oceano dá-me uma onda, entrega-ma, e sem pedir leva de mim fragmentos do que eu sou. Do que eu poderia vir a ser. Onda a onda.
Hoje surfei nos Coxos. Foi a minha primeira vez.
Senti só por olhar, o peso daquele mar. Aquela baía em que quebram algumas das mais perfeitas direitas da Europa permaneceu secreta durante algumas décadas por um punhado de privilegiados que compreenderam a dimensão da dádiva que lhes era oferecida. Hoje ao descer para a baía compreendi o porquê desta atitude. É fácil. Não foi só por desejo dos mesmos. É a própria baía que pede segredo.
Desta vez julgo não ter morrido um bocadinho. Assinei mesmo a sentença. Reafirmei os meus votos e o oceano ofereceu-me de prenda seis ou sete ondas, fáceis, que claramente entraram pela baía, eu juro, desviando-se do resto do crowd existente. Imaginei o clima nos dias em que a onda se revela por inteiro. Imaginei a sensação do viajante e surfista australiano Daf Williams, vindo de uma viagem na qual passou quatro meses na Indonésia, e dois meses em J-Bay, quando surfou três tubos numa onda de de oito pés nos Coxos, partiu a sua prancha em três, saiu e disse – “Foi o melhor tubo que fiz até hoje. Vou para casa.”
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
3, 2, 1, Splash!
Uma das principais razões que me levam a escrever num blog, prende-se com o facto de, em parte, isso me estimular a fazer coisas novas, a comunicar com mais gente e a não me sentir estagnado.
É demasiado fácil cruzar os braços e deixarmo-nos arrastar sem novidades pela vida que mantemos e essa acaba por ser a regra que observamos a maioria das vezes à nossa volta, a paradoxal falta de empenho e paixão naquilo pelo qual se nutre maior interesse.
É esse o motivo que me leva a ter uma especial admiração pelos autores do blog AlgarveSurfPhotos, que tiveram a radical atitude de dar corpo à sua arrojadíssima ideia de criar uma nova revista de surf, neste caso, dedicada à sua região.
O blog AlgarveSurfPhotos foi criado pelo Tiago Grosso, mas pelo meio foi ganhando outros autores e fotógrafos colaboradores, da sua revista prevejo, acima de tudo, que venham a romper com a postura clássica de outras revistas portugueses onde apenas figuram os nomes e as coordenadas do costume.
Assim meio em cima do joelho, fiz algumas perguntas ao Tiago, a que ele, simpaticamente, respondeu de forma pronta, aqui fica:
O que é a “Splash”?
Ora bem, Pedro! A “Splash” é muito basicamente, uma revista de surf dedicada ao Algarve, mas tem, e irá ter de futuro, muito mais do que apenas o surf da região. O surf no Algarve serve apenas de mote para aquilo que iremos futuramente fazer. É um denominador comum, o ponto de partida que define as prioridades.
Espero que a revista seja um reflexo de um certo estilo de vida que tem no mar, nas ondas, nas artes alternativas, na música e na fotografia a sua forma de estar. No fundo, aquilo que queremos, é mostrar o Algarve no seu auge. Quero que as pessoas abram a revista e digam "Uau! Estou com vontade de sair de casa e ir aproveitar as coisas boas que a nossa região tem para oferecer". A “Splash” é muito nova e tem muito por onde evoluir. Não quero estagnar num determinado conceito. Quero extrapolar limites e ideias preconcebidas daquilo que faz uma revista. Levar o Algarve ao mundo. Fazer uma revista que dê vontade de viver a vida ao máximo.
Como surgiu a ideia?
Bem, a ideia surgiu no seguimento do blogue AlgarveSurfPhotos (http://algarvesurfphotos.blogspot.com/). Eu comecei a fotografar há alguns anos atrás e entretanto, fiz este blog onde punha as fotos que ia tirando durante as surfadas e tal... Às tantas o blog ficou conhecido na região. Mais tarde conheci o Ivo Afonso das “Plancton Surfboards” e falei-lhe na ideia de fazer uma revista. Decidimos avançar, até que o Ivo (o homem dos sete ofícios) teve que desistir por falta de disponibilidade e eu continuo com a ajuda de alguns colaboradores a nível de fotografia, textos, etc. Basicamente foi assim. Não se trata de um sonho de infância, mas sim daquilo que neste momento faz sentido e se formos a ver bem (e dadas as circunstâncias no meio do surf algarvio) fazia todo o sentido criar uma revista dedicada ao Algarve.
Será que o actual bom cenário do surf algarvio, de onde estão a emergir nomes sonantes como os irmãos Guichard ou os Lipke, também ajuda a que uma revista como a vossa surja com maior naturalmente?
Claro que sim. Bons surfistas permitem excelentes fotos e isso dá credibilidade a qualquer revista que se preze e se fores ver, temos muitas fotos dos Guichard. Os Lipke não aparecem porque simplesmente não tive acesso a fotos deles, se bem que desejo ter de futuro. Mas como eu costumo dizer, não quero fazer desta revista uma revista para a elite do surf. Antes de mais, aquilo que quero, são boas fotos, independentemente de nomes. Além disso, a revista vai dar um impulso muito grande aos que estão a começar e àqueles que desejam ter uma carreira no surf, porque irá dar-lhes visibilidade através das fotografias e tudo o resto, coisa que antes era muito difícil eles terem com 3 revistas centradas na zona de Lisboa. A partir de agora é bem possível que, se fores surfar e fizeres um manobrão, apareças nas páginas da “Splash”. Isso é bom para todos.
Onde é que se vai poder encontrar a vossa revista?
Para já e tratando-se de um número zero, podem procurar na vossa surfshop mais próxima a partir de 2ªfeira dia 13. Eventualmente terá uma distribuição normal a nível de quiosques, mas estes pormenores irão ser divulgados no nosso blogue muito brevemente.
Fotos gentilmente cedidas pela Splash.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Magic Quiver
Deixou-me entusiasmado o facto de saber que, desde há uns dias a esta parte, podemos comprar ou encomendar pranchas "Dano" e "Rainbow Surfboards" cá em Portugal. Não que tal motivo me leve a correr a comprar uma, mas fico contente por saber que tais objectos de desejo me estão agora mais acessíveis.
Por detrás de ambas as marcas estão grandes shapers e a filosofia de conceber pranchas com uma qualidade e rigor de excelência, a meu ver, chega a ser fácil associar a noção de “obra de arte” a algumas destas pranchas.
Ficam igualmente disponíveis alguns templates que por cá só agora se começam a produzir e outros que nos são quase inacessíveis ou difíceis de encontrar.
Pranchas Dano, modelos "The Twins"
Adianto também uma pequena conversa com o Rui Ribeiro (o homem por detrás do quiver mágico):
Como funcionará a “Magic Quiver” em termos físicos? Haverá um espaço onde eu possa ir ver e comprar as pranchas?
Rui: Numa primeira fase, as pranchas estarão disponíveis apenas por encomenda. São pranchas muito especiais produzidas em pequenas quantidades e o principal objectivo da Magic Quiver é oferecer aos clientes um serviço personalizado e a possibilidade de encomendarem junto dos shapers a prancha dos seus sonhos. A médio prazo passarei a dispor de algumas pranchas em stock, especialmente os modelos mais procurados de forma a satisfazer os clientes mais apressados.
Estas pranchas ainda custam uma pipa de massa, a teu ver o que pode orientar alguém a fazer um investimento tão grande numa prancha?
Rui: Estas pranchas destinam-se sobretudo a conhecedores ou a surfistas que gostem de experimentar diferentes shapes e diferentes abordagens ao surf. Não são as normais tri-fins, são shapes muito especiais para quem procura um surf mais fluido, rápido e acima de tudo em maior sintonia com a onda.
E não podemos esquecer a qualidade das pranchas. Desde os blanks, às excelentes fibragens, passando pelas pinturas à base de resinas pigmentadas em vez de spray, tudo junto dá forma a uma prancha com um design, uma estética e uma qualidade muito acima dos padrões normais.
A qualidade das fibragens faz delas pranchas extremamente resistentes e duráveis acabando por ser um excelente investimento. Não é um quiver que se troque a cada estação, é um quiver que se vai aumentando a cada sorriso que proporciona após mais aquela fantástica onda que fizemos.
Já ouvi falar de pessoal que dorme com as pranchas ou até que lhe dá festinhas, lol, não que leves a coisa a esse extremo, mas também acreditas que para um surfista a prancha não se resigna a um mero objecto?
Rui: Não vejo a prancha como um mero objecto para atingir um fim. A prancha é mais que isso, é uma extensão do nosso corpo que nos permite viajar por paredes de água salgada. Tem de estar em sintonia com o nosso corpo, com o nosso surf. A prancha errada estraga qualquer surfada. A prancha mágica, essa prancha tão desejada por todos os surfistas, é aquela que é a extensão perfeita do nosso corpo, aquela que obedece aos nossos movimentos como se de mais um membro se tratasse.
E tal como devemos tratar bem do nosso corpo, também assim devemos tratar as nossas pranchas. Agora até onde cada um vai com esses cuidados, depende. Eu contento-me em mantê-la em bom estado, limpa, lavada e sempre pronta a usar! lol
Em termos de templates o que tens para oferecer?
R: A Dano oferece uma boa variedade de Longboards de inspiração clássica bem como Twins e Quad Fish. Nos Longs têm fantásticas pranchas para um surf mais clássico, cheio de estilo e acima de tudo muito noseriding! Em relação ás Twins e Quads, estas possuem um shape mais moderno desenvolvido a partir das Fish dos anos 60/70.
A Rainbow oferece uma maior variedade pois têm 4 shapers a trabalhar para eles, Rich Pavel, Mike Hynson, Steve Clark e Gary Macnabb. Têm desde Single Fins, Eggs, Mini-guns, Twins, Quads e Bonzers. Uma enorme variedade de shapes. O modelo com maior procura é a fantástica Speed-dialer do Rich Pavel. Uma Fish moderna, ultra rápida capaz de um surf mais solto. A Rainbow oferece praticamente todos os templates mais “alternativos” e qualquer surfista encontra aí uma prancha á sua medida.
Rainbow Speed-Dialer de Rich Pavel
Rui, já tens disponíveis Dano’s e Rainbows Surfboards, ficas-te por aqui, ou poderão ainda haver mais novidades?
R: O Objectivo é oferecer a maior variedade possível, dispor de uma boa oferta a nível de marcas, Shapers, templates. É um mercado relativamente novo e pequeno, por isso pretendo oferecer aos surfistas várias opções de forma a encontrar para estes a prancha certa, a prancha mágica. Não são pranchas que estejam aqui á mão de qualquer surfista. Não pretendo vender por vender, limitando o surfista a uma ou duas escolhas. Por isso em breve terei mais novidades, mais pranchas fantásticas para oferecer, alargando a oferta actual da Magic Quiver.
Podem tentar saber mais em: http://magic-quiver.blogspot.com